Em retaliação a ataque, Seul suspende laços comerciais com Coreia do Norte

Pressão. Governo da Coreia do Sul decide interromper quase toda a compra de produtos de Pyongyang, acusada de afundar navio sul-coreano em março; em visita à região, Hillary pede apoio da China para propor na ONU sanções contra o regime comunista

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Por Cláudia Trevisan , CORRESPONDENTE e PEQUIM
Atualização:

A Coreia do Sul anunciou ontem pesadas medidas de retaliação contra a Coreia do Norte, país que responsabiliza pelo ataque a um navio de guerra em 26 de março que provocou a morte de 46 marinheiros sul-coreanos. A mais dura delas é a interrupção de quase todo o comércio bilateral, o que deverá agravar ainda mais a situação econômica da empobrecida Coreia do Norte, que destina 38% de suas exportações para o vizinho do Sul.Anunciadas pelo presidente Lee Myung-bak em rede nacional de televisão, as medidas incluem ainda a suspensão de todos os investimentos no país vizinho, a proibição do uso de rotas comerciais marítimas do Sul por navios do país, a interrupção de ajuda humanitária - com exceção da destinada a crianças - e a proibição de viagens de sul-coreanos para o norte.Além das punições unilaterais, Lee afirmou que pedirá ao Conselho de Segurança da ONU que imponha sanções internacionais a Pyongyang. "Se as nossas águas territoriais, o espaço aéreo ou o território forem violados militarmente, nós vamos imediatamente exercer nosso direito à autodefesa", ressaltou o presidente. Lee exigiu que o regime de Pyongyang se desculpe pelo suposto ataque e puna os responsáveis por sua execução.O presidente dos EUA, Barack Obama, ordenou aos comandantes militares americanos que coordenem suas ações com os sul-coreanos para "garantir a prontidão e a deter agressão". Em uma herança da Guerra da Coreia (1950-1953), os americanos têm 28 mil soldados na Coreia do Sul. Na semana passada, a Coreia do Norte rejeitou as acusações de que afundou o navio sul-coreano e disse que irá à guerra caso seja alvo de sanções. Pyongyang propôs enviar a Seul um "grupo de inspeção" para rever a investigação que concluiu que o navio foi afundado por torpedo disparado de um submarino norte-coreano. A sugestão foi descartada pelo governo do Sul.O embaixador do Brasil em Pyongyang, Arnaldo Carrilho, disse em entrevista ao Estado que as sanções terão "grande impacto" na economia da Coreia do Norte, já que a Coreia do Sul é o segundo maior parceiro comercial do país, atrás apenas da China. O Korea Development Institute, ligado ao governo de Seul, divulgou estudo segundo o qual a suspensão do comércio vai tirar de Pyongyang uma de suas principais fontes de dólares, que são utilizados para realização de negócios com outros países, especialmente a China, que responde por 57% das importações norte-coreanas.A crise entre as duas Coreias transformou-se no principal tópico da visita de uma semana à Ásia que a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, iniciou na sexta-feira. Ela discutiu o tema nos encontros que teve com autoridades chinesas e pediu apoio do país à aplicação de sanções à Coreia do Norte pelo CS da ONU. "Precisamos trabalhar juntos mais uma vez para enfrentar esse desafio e promover nossos objetivos comuns de paz e estabilidade na Península Coreana", disse Hillary.A secretária de Estado participa em Pequim da segunda rodada do Diálogo Estratégico e Econômico entre China e EUA, âmbito no qual os dois países discutem temas globais e de interesse bilateral. Principal aliado da Coreia do Norte, Pequim não deverá adotar sanções que coloquem o país vizinho em uma situação de calamidade econômica, o que poderia levar à implosão do regime de Kim Jong-il.AÇÕES UNILATERAIS Comércio bilateralA Coreia do Sul suspendeu o comércio com a Coreia do Norte, o que deve agravar ainda mais a situação econômica dos norte-coreanos, já que mais de 40% das importações do país chegam do Sul InvestimentosSuspensão de quase todos os investimentos sul-coreanos na Coreia do Norte, cortando parte do fluxo de moeda forte para o país Navegação Proibição do uso de rotas comerciais marítimas sul-coreanas por navios da Coreia do Norte Ajuda humanitáriaSuspensão de ajuda humanitária para a Coreia do Norte, com exceção da destinada a crianças. A ação tende a agravar ainda mais a pobreza e a fome entre a população norte-coreana ViagensProibição de viagens de sul-coreanos para os vizinhos do norte. A medida é outra forma de impedir a entrada de divisas no país vizinho Sanções multilateraisSeul enviará o caso do afundamento do navio Cheonan ao Conselho de Segurança da ONU para a aprovação de sanções multilaterais, o que deve isolar ainda mais o regime do líder norte-coreano Kim Jong-il

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