WASHINGTON - Para os partidários de Donald Trump, a decisão da Suprema Corte de sustentar a proibição que cidadãos de cinco países de maioria muçulmana viajem aos Estados Unidos foi uma afirmação do direito do território americano de proteger sua fronteira do terrorismo.
Para seus opositores, a decisão validou a agenda antimuçulmana que vai contra os ideais americanos, subverteu a Constituição e derrubou as esperanças de milhares de famílias separadas pela guerra e pobreza.
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- Não há escapatória para a América:
A decisão manda uma mensagem brusca de rejeição aos requerentes de visto em alguns dos países mais pobres do mundo. Advogados de direitos civis e imigração temem que a regra feche a porta a pessoas desesperadas em países de maioria muçulmana, em particular aquelas que têm parentes nos EUA e viam a Suprema Corte como sua última esperança.
Três dos países de maioria muçulmana afetados pela ordem de Trump - Líbia, Iêmen e Síria - estão em guerra há anos. A Somália sofreu com a destruição por anos. Embora especialistas em antiterrorismo considerem que tais locais são áreas férteis para o surgimento de extremismo violento, a decisão da Suprema Corte não faz nada para acelerar o fim dos conflitos nestes locais.
E apesar de a ordem executiva de Trump permitir que exceções sejam concedidas, advogados disseram ter visto pouca ou nenhuma evidência disso. É o exemplo de centenas de famílias iemenitas com parentes americanos.
As pessoas fugiram do Iêmen para o Djibouti para pedir vistos americanos, já que a embaixada americana no Iêmen está fechada, mas tiveram seus pedidos negados e permanecem presas no país.
"Todos tinham esperanças para a decisão da Suprema Corte", disse a advogada Diala Shamas, do Centro de Direitos Constitucionais, grupo que enviou investigadores ao Djibouti e produziu um relatório sobre as famílias abandonadas no país. "Agora enfrentam a escolha difícil da separação permanente de suas famílias ou do retorno ao Iêmen", explicou.
O ativista somali-americano Mohamud Noor, de Minneapolis, lar de uma das maiores comunidades de imigrantes somalis nos EUA, disse que a decisão da Suprema Corte foi devastadora para muitos que queriam que seus parentes na terra natal se juntassem a eles legalmente no território americano.
- Iranianos podem ser os mais afetados:
O país de maioria muçulmana que enfrenta o maior transtorno é o Irã, que lidera no número de vistos para não-imigrantes aos EUA entre os países afetados pelo veto, apesar das relações diplomáticas complicadas com os EUA desde a Revolução Islâmica de 1979.
Estimativas apontam que um milhão de cidadãos americanos descendentes de iranianos vivem nos EUA e muitos viajam ao Irã para visitar suas famílias. Mas agora é difícil saber como seus parentes que moram no Irã poderão visitá-los.
O medo surgiu pela primeira vez na comunidade iraniana-americana com o primeiro veto de Trump, há 18 meses, que resultou em caos por sua aplicação desorganizada, e foi bloqueado pelos tribunais.
A angústia voltou com a última versão da ordem executiva, agora validada pela Suprema Corte, como disse o vice-presidente de política do Conselho Nacional Iraniano-Americano, Jamal Abdi. "Os iranianos não podem viajar para cá a menos que tenham um visto. E o processo para visto é imprevisível, não há explicação de como será implementado", disse.
O impacto deve enfurecer mais ainda os opositores de Trump, que tem isolado Irã. O país já sente os efeitos negativos da decisão de Trump de retirar os EUA do acordo nuclear de 2015 e reimpor as sanções econômicas que penalizam empresas que fizerem negócios com o país.
- Os menos afetados: Venezuela e Coreia do Norte:
Os efeitos práticos sobre as duas nações não-muçulmanas no veto são mínimos, o que fortalece o argumento dos críticos de que a regra tem como alvo a população muçulmana.
As restrições aos venezuelanos se aplicam apenas a uma categoria restrita de funcionários do governo de Nicolás Maduro: os considerados responsáveis por não cooperar com o Departamento de Segurança na identificação de requerentes de visto que apresentem risco à segurança americana.
E embora as restrições aos norte-coreanos se apliquem à toda a população, quase nenhum cidadão da Coreia do Norte tem autorização do governo para viajar aos EUA.
"A maioria das pessoas esqueceu que a Coreia do Norte foi adicionada à lista de países sujeitos à proibição, principalmente como uma forma de fazer com que pareça menos uma medida anti-muçulmana", disse o ex-diplomata do Departamento de Estado, Evans Revere, especialista em Coreia do Norte.
Para o professor de estudos coreanos Sung Yoon-lee, da Universidade de Tufts, "a inclusão da Coreia do Norte provavelmente será revertida pela administração" e usada como moeda de troca para avançar na reaproximação entre os dois países. / NYT