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Entenda: consequências para os cidadãos dos 7 países afetados pelo decreto migratório de Trump

Irã, Líbia, Coreia do Norte, Somália, Síria, Venezuela e Iêmen compõem na lista de Estados afetados pelo veto

Atualização:

WASHINGTON - Para os partidários de Donald Trump, a decisão da Suprema Corte de sustentar a proibição que cidadãos de cinco países de maioria muçulmana viajem aos Estados Unidos foi uma afirmação do direito do território americano de proteger sua fronteira do terrorismo.

Protesto na Praça Foley, em Nova York, contra a manutenção do veto a cidadãos de países de maioria muçulmana. Foto: Marian Carrasquero/The New York Times

Para seus opositores, a decisão validou a agenda antimuçulmana que vai contra os ideais americanos, subverteu a Constituição e derrubou as esperanças de milhares de famílias separadas pela guerra e pobreza.

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Como a decisão afetaa Irã, Líbia, Coreia do Norte, Somália, Síria, Venezuela e Iêmen:

- Não há escapatória para a América:

A decisão manda uma mensagem brusca de rejeição aos requerentes de visto em alguns dos países mais pobres do mundo. Advogados de direitos civis e imigração temem que a regra feche a porta a pessoas desesperadas em países de maioria muçulmana, em particular aquelas que têm parentes nos EUA e viam a Suprema Corte como sua última esperança.

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Três dos países de maioria muçulmana afetados pela ordem de Trump - Líbia, Iêmen e Síria - estão em guerra há anos. A Somália sofreu com a destruição por anos. Embora especialistas em antiterrorismo considerem que tais locais são áreas férteis para o surgimento de extremismo violento, a decisão da Suprema Corte não faz nada para acelerar o fim dos conflitos nestes locais.

Manifestantes protestamcontra o veto migratório de Trump, mantido pela Suprema Corte dos EUA. Foto: EFE/ David Maung

E apesar de a ordem executiva de Trump permitir que exceções sejam concedidas, advogados disseram ter visto pouca ou nenhuma evidência disso. É o exemplo de centenas de famílias iemenitas com parentes americanos. 

As pessoas fugiram do Iêmen para o Djibouti para pedir vistos americanos, já que a embaixada americana no Iêmen está fechada, mas tiveram seus pedidos negados e permanecem presas no país.

"Todos tinham esperanças para a decisão da Suprema Corte", disse a advogada Diala Shamas, do Centro de Direitos Constitucionais, grupo que enviou investigadores ao Djibouti e produziu um relatório sobre as famílias abandonadas no país. "Agora enfrentam a escolha difícil da separação permanente de suas famílias ou do retorno ao Iêmen", explicou.

O ativista somali-americano Mohamud Noor, de Minneapolis, lar de uma das maiores comunidades de imigrantes somalis nos EUA, disse que a decisão da Suprema Corte foi devastadora para muitos que queriam que seus parentes na terra natal se juntassem a eles legalmente no território americano.

- Iranianos podem ser os mais afetados:

O país de maioria muçulmana que enfrenta o maior transtorno é o Irã, que lidera no número de vistos para não-imigrantes aos EUA entre os países afetados pelo veto, apesar das relações diplomáticas complicadas com os EUA desde a Revolução Islâmica de 1979.

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Mehrad Ansari, iraniano, segura cartaz na frente do prédio da Suprema Corte dos EUA depois que o veto de Trump foi mantido pelo tribunal. Foto: REUTERS/Leah Millis

Estimativas apontam que um milhão de cidadãos americanos descendentes de iranianos vivem nos EUA e muitos viajam ao Irã para visitar suas famílias. Mas agora é difícil saber como seus parentes que moram no Irã poderão visitá-los.

O medo surgiu pela primeira vez na comunidade iraniana-americana com o primeiro veto de Trump, há 18 meses, que resultou em caos por sua aplicação desorganizada, e foi bloqueado pelos tribunais. 

A angústia voltou com a última versão da ordem executiva, agora validada pela Suprema Corte, como disse o vice-presidente de política do Conselho Nacional Iraniano-Americano, Jamal Abdi. "Os iranianos não podem viajar para cá a menos que tenham um visto. E o processo para visto é imprevisível, não há explicação de como será implementado", disse. 

O impacto deve enfurecer mais ainda os opositores de Trump, que tem isolado Irã. O país já sente os efeitos negativos da decisão de Trump de retirar os EUA do acordo nuclear de 2015 e reimpor as sanções econômicas que penalizam empresas que fizerem negócios com o país.

- Os menos afetados: Venezuela e Coreia do Norte:

Os efeitos práticos sobre as duas nações não-muçulmanas no veto são mínimos, o que fortalece o argumento dos críticos de que a regra tem como alvo a população muçulmana.

As restrições aos venezuelanos se aplicam apenas a uma categoria restrita de funcionários do governo de Nicolás Maduro: os considerados responsáveis por não cooperar com o Departamento de Segurança na identificação de requerentes de visto que apresentem risco à segurança americana.

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Manifestação contra o veto migratório de Trump na frente da Suprema Corte dos EUA, em Washington. Foto: AFP PHOTO / MANDEL NGAN

E embora as restrições aos norte-coreanos se apliquem à toda a população, quase nenhum cidadão da Coreia do Norte tem autorização do governo para viajar aos EUA.

"A maioria das pessoas esqueceu que a Coreia do Norte foi adicionada à lista de países sujeitos à proibição, principalmente como uma forma de fazer com que pareça menos uma medida anti-muçulmana", disse o ex-diplomata do Departamento de Estado, Evans Revere, especialista em Coreia do Norte.

Para o professor de estudos coreanos Sung Yoon-lee, da Universidade de Tufts, "a inclusão da Coreia do Norte provavelmente será revertida pela administração" e usada como moeda de troca para avançar na reaproximação entre os dois países. / NYT

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