Os recentes ataques na Turquia - o último, realizado no aeroporto de Istambul - prejudicaram a já questionada imagem do presidente Recep Tayyip Erdogan, acusado de ser tolerante com o Estado Islâmico (EI) por ver no grupo jihadista um instrumento contrário à autonomia dos curdos e ao regime sírio de Bashar Assad. Por outro lado, fortaleceram a ideia de que o governo de Erdogan precisa adotar novas estratégias em política externa se não quiser ficar isolado.
“Parece que o governo finalmente percebeu que a situação é desastrosa, insustentável e optou por uma virada estratégica com a aproximação de Israel e Rússia”, afirmou ao Estado o professor de estudos da Turquia Moderna na Universidade de Graz, na Áustria, Karabekir Akkoyunlu, sobre a retomada das relações diplomáticas anunciadas semana passada com Rússia, Israel e Egito.
Após a saída do Reino Unido da União Europeia, alguns especialistas questionaram se a negociação entre UE e Turquia seria facilitada. As conversas, porém, continuam estagnadas já que Erdogan insiste em não mudar a lei antiterror - exigência para retirar a necessidade de visto para turcos circularem em países do bloco.
“A retomada de relações não tem a ver com o Brexit. É um sinal da necessidade de se voltar ao pragmatismo depois de um período ideológico desastroso na forma turca de fazer política internacional”, disse Akkoyunlu.
Segundo ele, o governo turco “exagerou na concentração de poderes, perdeu a maioria de seus aliados na região” e precisa rever as medidas adotadas, porque especialistas projetam a possibilidade de novos ataques do EI ao país.
“As relações com Israel foram congeladas em 2010. A Rússia passou de amiga para inimiga do dia para a noite após a derrubada de um jato russo perto da fronteira, em novembro do ano passado. O regime sírio, antes amigo do AKP, partido governista na Turquia, se tornou um inimigo após 2011”, disse Akkoyunlu.
“Os laços diplomáticos com o Egito foram afetados pelo golpe militar de 2013. A paz com os curdos colapsou em 2015 e a guerra com o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) atingiu os piores níveis em décadas”, afirma Akkoyunlu sobre as relações que precisam ser refeitas pelo governo Erdogan, acusado de “prestar de auxílio informal a jihadistas” para combaterem esses mesmos grupos, como o governo sírio.”