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Escândalo com cartão corporativo derruba vice do Uruguai 

Os problemas com Raúl Sendic começaram em fevereiro de 2016 para a Frente Ampla, uma coalizão de esquerda que governa o Uruguai desde 2005

Atualização:

MONTEVIDÉU - O vice-presidente do Uruguai, Raúl Sendic, apresentou sua renúncia "indeclinável" ao cargo neste sábado, 9, depois de se ver envolvido em um escândalo pelo uso de cartões corporativos oficiais e um título acadêmico que não tinha.

"Apresentei ao plenário da Frente Ampla (partido do governo) minha renúncia indeclinável à vice-presidência. Comuniquei também ao presidente Tabaré Vázquez", anunciou Sendic no Twitter, depois de uma reunião do partido.

O ex-vice-presidente do Uruguai, Raúl Sendic, em Montevidéu Foto: REUTERS/Andres Stapff

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Sendic renunciou depois de uma decisão do Tribunal de Conduta Política (tribunal ético) de seu partido, a esquerdista Frente Ampla, que se pronunciou sobre seu comportamento em relação ao uso de cartões corporativos oficiais quando era diretor da petroleira estatal ANCAP.

A informação, que se tornou pública a partir de um recurso de acesso a dados da empresa iniciado por jornalistas, mostrou gastos de Sendic em lojas de material esportivo, produtos eletrônicos e joalherias no Uruguai e em outros países.

O tribunal considerou que "o quadro geral apresentado pelos atos descritos" do agora ex-vice-presidente "não deixa dúvidas de um modo de atuar inaceitável no uso de dinheiro público".

Sua atuação "compromete sua responsabilidade ética e política, com o descumprimento reiterado de normas de controle", afirma um comunicado.

Em um vídeo filmado durante a plenária, realizada a portas fechadas neste sábado na sede do partido governista em Montevidéu para abordar o caso, Sendic chamou a decisão do tribunal partidário de "desproporcional" e "infundada". Ele disse que "não há provas" de que cometeu irregularidades.

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"Diante desta situação, frente a este conjunto de manobras, de deslealdades", das quais acusa os companheiros de partido, Sendic afirmou: "Venho (...) colocar à disposição de vocês a vice-presidência, venho aqui renunciar à vice-presidência da República".

Em seguida, saiu do recinto e anunciou a renúncia "indeclinável" à população pelo Twitter.

Os problemas com Sendic começaram em fevereiro de 2016 para a Frente Ampla, uma coalizão de esquerda que governa o Uruguai desde 2005, sucessivamente com Vázquez, José Mujica e novamente Vázquez à frente do governo.

No ano passado, Sendic admitiu que não era formado em Genética Humana como se acreditava até então.

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Sua vida política entrou em uma espiral descendente, com seu nome envolvido em vários processos judiciais por sua gestão à frente da ANCAP entre 2010 e 2013, e a Frente Ampla começou a mostrar divisões internas.

Alguns setores, como o Partido Comunista, defenderam o vice. O próprio presidente do país chegou a afirmar que Sendic era vítima de "bullying". Mas com o passar do tempo, os pedidos de renúncia começaram a crescer até mesmo dentro do governo.

Vázquez, em uma mudança de postura notória, afirmou em uma entrevista que se ele fosse criticado pelo tribunal de ética partidário deixaria o cargo que ocupava.

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Sendic respondeu que essa era a opinião do presidente que afirmou durante a semana que compareceria à reunião de sábado para provar sua "inocência". Mas, finalmente, terminou renunciando.

O agora ex-vice, 55 anos, é filho do falecido Raúl Sendic, um dos fundadores da guerrilha Movimento de Libertação Nacional MLN-Tupamaros, que atuou no Uruguai nos anos 60 e 70. Foi escolhido por Vázquez para integrar a chapa presidencial que venceu a eleição em 2014 e assumiu o cargo em 2015.

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Sendic chegou a ser uma figura de consenso na Frente Ampla, um nome em ascensão que poderia, por sua história pessoal e carisma, reunir os apoios necessários para virar o próximo candidato a presidente da coalizão, que aspira conquistar o quarto mandato consecutivo em 2020.

Sendic foi nomeado para a principal empresa pública uruguaia pelo ex-presidente Mujica (2010-2015).

O Uruguai está no momento com a vice-presidência vaga. A norma determina que o cargo deveria ser ocupado por Lucía Topolansky, mulher de Mujica, senador titular da lista mais votada nas últimas eleições, mas inabilitado para ocupar o cargo de vice porque no Uruguai não existem períodos sucessivos de governo. / AFP 

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