Especialistas sugerem formas de retaliar Coreia do Norte após caso Sony

Ações vão de sanções financeiras a ações diretas contra as capacidades cibernéticas do país asiático

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Por Redação
Atualização:
Fachada da Sony Pictures, na Califórnia Foto: Damian Dovarganes/AP

As advertências feitas pelo presidente Barack Obama na sexta-feira a respeito de ações punitivas contra a Coreia do Norte após o ataque contra os sistemas da Sony Pictures Entertainment levanta uma questão: o que a maior potência econômica do mundo e suas poderosas Forças Armadas podem fazer contra um país isolado que há décadas resiste às tentativas para conter sua hostilidade?

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O comércio norte-coreano com os Estados Unidos é praticamente inexistente, o que limita o possível impacto de sanções comerciais. As consequências potencialmente desastrosas de qualquer retaliação militar norte-americana são proibitivas o suficiente para torná-las a mais remota das possibilidades.

Mas, apesar desse cenário, há espaço para algumas ações, dizem alguns especialistas. Segundo eles, essas ações vão de sanções financeiras a ações diretas contra as capacidades cibernéticas da Coreia do Norte.

Um ataque cibernético realizado no ano passado contra sites norte-coreanos - pelo grupo chamado Anonymous - oferece um modelo de ação punitiva. O ataque derrubou vários sites do país, dentre eles o

Uriminzokkiri, que faz propagando pró-governo, deixando a página inacessível por alguns dias. A ação permitiu também que o grupo recolhesse uma quantidade significativa de dados dos servidores norte-coreanos.

Hackers norte-americanos e sul-coreanos também podem atacar o hardware dos computadores norte-coreanos, declarou Choi Sang-myung, graduado pesquisador da Hauri Inc., empresa que desenvolve antivírus na Coreia do Sul.

"Os hackers norte-coreanos são, essencialmente, um grupo de ladrões de dados, não destruidores", afirmou Choi em entrevista. "Se um software malicioso for plantado na informação que eles procuram, os computadores dos hackers podem ficar comprometidos."

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Por outro lado, entrar nesse tipo de ação retaliatória com a Coreia do Norte pode prejudicar a confiança na segurança dos serviços bancários e de compras online adverte Stephanie Balaouras, vice-presidente de segurança e risco da empresa de pesquisa tecnológica Forrester Research Inc.

"Se as autoridades norte-americanas estão tão confiantes de que sua prerrogativa é correta, a melhor coisa a fazer é trabalhar com a Sony para distribuir "A Entrevista" em todos os cantos do mundo, por meio de todos os disponíveis e de graça", afirmou Balaouras.

Na frente financeira, os Estados Unidos têm um campo amplo para atingir as capacidades financeiras e suas ligações com o sistema bancário mundial, afirmou Joshua Stanton, advogado da capital Washington e blogueiro, que é conselheiro do Comitê de Assuntos Estrangeiros sobre Coreia do Norte da Câmara dos Representantes.

Stanton diz que os Estados Unidos podem passar a considerar o sistema bancário norte-coreano como uma preocupação no que diz respeito à lavagem de dinheiro, colocar o país na lista negra dos Estados que patrocinam o terrorismo e tomar ações para impedir o turismo norte-americano no país.

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"Nossas sanções contra a Coreia do Norte são mais fracas do que as que impomos ao Zimbábue", declarou Stanton em entrevista. "Todas as principais autoridades do governo do Zimbábue tiveram seus ativos bloqueados, o que não acontece com nenhuma das principais autoridades do governo norte-coreano."

Stanton sugere uma ação semelhante às sanções financeiras que o Departamento do Tesouro impôs em 2005 ao Banco Delta Asia, de Macau, acusado de ser um canal de lavagem de dinheiro para Pyongyang. A medida congelou US$ 25 milhões em recursos norte-coreanos no banco e provocou fortes protestos do regime.

Stanton diz que uma sanção semelhante pode ser imposta para todo o sistema financeiro do país, com poucas exceções para alimentos e ajuda humanitária. Nos últimos dias, os Estados Unidos têm aplicado esta designação para bancos de forma individual, como o caso do Banco Delta Asia, mas também para sistemas bancários inteiros, como acontece em Mianmar, Nauru e Ucrânia.

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"A única e maior coisa que podemos fazer é designar o país como uma grande preocupação no que diz respeito à lavagem de dinheiro", afirmou Stanton. Segundo ele, isso impediria o regime de realizar transações denominadas em dólar por meio do sistema financeiro norte-americano, como suas instituições costumam fazer.

Mas alguns desertores da Coreia do Norte dizem que Pyongyang aprendeu com as sanções aplicadas ao Banco Delta Ásia e atualmente mantém a maior parte de seu dinheiro fora do sistema bancário tradicional, o que pode limitar o impacto de uma medida como essa.

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Mas Stanton lembra também que as sanções norte-americanas listam apenas 63 navios, empresas e indivíduos norte-coreanos, muito menos do que os que são alvo de sanções em Mianmar ou Cuba.

Ele também disse que o Congresso norte-americano poderia começar a discutir uma lei que imporia restrições à viagem de cidadãos norte-americanos para a Coreia do Norte e ao gasto de dinheiro no país.

Embora o número de turistas ocidentais na Coreia do Norte permaneça baixo, estima-se que 6 mil estiveram no país no ano passado, Pyongyang diz que pretende expandir sua indústria do turismo, uma fonte de moeda forte para o governo. Fonte: Dow Jones Newswires.

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