Espionagem, petróleo e militarização aumentam tensão sobre Malvinas

Londres pediu explicações à embaixadora argentina, Alicia Castro, e Buenos Aires fez o mesmo com o britânico John Freeman

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Por Rodrigo Cavalheiro CORRESPONDENTE e BUENOS AIRES
Atualização:

A crescente tensão entre Argentina e Grã-Bretanha em temas relacionados às Ilhas Malvinas (Falklands, para os britânicos) culminou com Londres pedindo explicações à embaixadora argentina, Alicia Castro, e Buenos Aires fazendo o mesmo com o britânico John Freeman. No último mês, os europeus anunciaram reforço militar e celebraram descoberta de petróleo no arquipélago. Nesta quinta-feira, 9, o governo sul-americano pediu explicações sobre uma denúncia de espionagem e denunciou penalmente na Justiça local cinco empresas envolvidas em perfurações nas Malvinas.

O secretário argentino de Assuntos Relativos às Ilhas Malvinas, Daniel Filmus, relacionou o reforço militar anunciado por Londres em 24 de março - gasto de US$ 268 milhões em 10 anos e uso de dois helicópteros Chinooks - com a exploração econômica na região. “Não tem sentido 1,2 mil soldados para proteger algo que não sofreria uma agressão, a militarização tem claros objetivos econômicos. Para que fique claro, é como se eles estivessem perfurando ao lado do Obelisco (maior ponto turístico de Buenos Aires)”, comparou Filmus em entrevista coletiva.

Monumento aos soldados mortos na Guerra das Malvinas, em Buenos Aires Foto: EFE/David Fernández

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Ele acusou o consórcio de empresas de violar leis argentinas e resoluções da ONU que pedem a ambos que não tomem medias unilaterais “enquanto está pendente a controvérsia". As empresas denunciadas são as britânicas Rockhopper Exploration, Premier Oil e Falkland Oil And Gas Limited, a americana Noble Energy INC e a italiana Edison International Spa, que exploram uma região 200 quilômetros ao norte do arquipélago.

Na noite de quarta-feira, o governo britânico chamou a embaixadora argentina para reclamar do tom de um discurso da presidente Cristina Kirchner em resposta à ampliação da proteção militar britânica às ilhas. Na cerimônia que marcou o 33.º aniversário do começo do conflito, dia 2, Cristina pediu que o governo britânico “não coloque uma libra a mais” em despesa militar para defender as Malvinas e use o dinheiro para alimentar sua população. A chancelaria britânica respondeu ontem não ter dúvida da soberania ou do direito dos habitantes das ilhas de escolher seu futuro. Em um plebiscito em março de 2013, 98,8% decidiram pertencer à Grã-Bretanha. 

Em retaliação, a chancelaria argentina chamou o embaixador John Freeman para comentar uma denúncia feita há uma semana pelo canal argentino TN com base em relatos de Edward Snowden, que trabalhou para a CIA e está exilado na Rússia. Segundo os dados, houve espionagem relacionada às ilhas entre 2006 e 2011, com operações encobertas em redes sociais e seguimento de militares argentinos. 

A Argentina reivindica a soberania sobre as ilhas, localizadas no Atlântico sul e em mãos britânicas desde 1833. A guerra entre ambos ocorreu em 1982 e deixou 649 soldados argentinos e 255 britânicos mortos. 

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