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EUA questionam ações militares russas na Síria

Casa Branca afirma que bombardeios ordenados por Moscou podem prejudicar objetivo de coalizão liderada pelo Pentágono contra o EI

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

WASHINGTON - As ações militares da Rússia na Síria contrariam os interesses dos EUA e seus aliados, que têm o principal objetivo de derrotar o Estado Islâmico (EI), afirmou ontem o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest. Entre os alvos dos ataques há pelo menos um grupo da oposição moderada a Bashar Assad que foi treinado pela CIA, segundo o republicano John McCain, presidente do Comitê das Forças Armadas do Senado.

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“Há uma falta de clareza sobre as reais intenções da Rússia dentro da Síria”, ressaltou Earnest. Nos últimos dois dias, aviões russos fizeram ataques “indiscriminados” contra grupos de oposição a Assad, incluindo alguns apoiados pelos Estados Unidos, afirmou o porta-voz da Casa Branca. 

“As atividades militares da Rússia contra grupos de oposição que estão genuinamente lutando contra o ISIL entram em conflito com nossa estratégia de combate ao grupo e deixamos isso muito claro aos russos”, acrescentou Earnest, usando a sigla pela qual o governo dos EUA se refere ao EI. 

Em sua avaliação, o bombardeio de áreas dominadas pela oposição moderada a Assad é um “grave erro de cálculo” que poderá radicalizar ainda mais o conflito. O presidente russo, Vladimir Putin, criticou na segunda-feira a estratégia dos EUA de equipar e treinar a oposição e disse que esses grupos desertarão para o EI assim que estejam armados.

Na tentativa de evitar encontros acidentais na ação das duas maiores potências militares do mundo, EUA e Rússia realizaram ontem uma videoconferência com o objetivo de estabelecer critérios para suas operações. Earnest disse que essa foi a primeira de uma série de discussões que devem se repetir nas próximas semanas. 

Segundo ele, foram analisadas questões técnicas, como a ênfase na utilização, pelos pilotos, de canais de comunicação reconhecidos internacionalmente. Apesar de a escolha de alvos não ter sido parte da conversa de ontem, Earnest não descartou a possibilidade de que isso venha a ocorrer no futuro.

Aviões militares despachados por Moscou realizaram ontem bombardeios aéreos na Síria pelo segundo dia consecutivo. A agência de notícias Step, de oposição a Assad, disse que pelo menos um dos ataques atingiu área controlada pelo EI. 

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Em entrevista na ONU, em Nova York, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que o objetivo de seu país é enfrentar o EI e a Frente Al-Nusra, além de “outros grupos terroristas”. As duas organizações também estão na mira da coalizão liderada pelos Estados Unidos para combater extremistas na Síria. 

“Nós estamos totalmente de acordo com a coalizão nesse ponto”, disse Lavrov. “Nós temos a mesma abordagem.” Mas os EUA e a Rússia continuam a discordar em um ponto fundamental: o papel de Assad na luta contra o terrorismo e no futuro da Síria. Enquanto os americanos exigem sua saída, Moscou insiste na inclusão de seu aliado na luta contra o EI e em eventuais negociações políticas com a oposição. 

Críticas. Anteontem, o secretário de Defesa dos EUA, Ashton Carter, afirmou que a ação russa na Síria equivale a “jogar gasolina no fogo”. Para ele, os ataques sem coordenação com a coalizão americana vão agravar e prolongar a guerra civil na Síria, que já custou a vida de 250 mil pessoas e forçou 12 milhões a abandonar suas casas nos últimos quatro anos e meio. “Não escutem o Pentágono”, disse Lavrov antes de se encontrar com o secretário de Estado, John Kerry, em Nova York.

Alerta. O porta-voz da Casa Branca observou ainda que os ataques aéreos da Rússia poderão levar a oposição moderada a se unir a grupos mais extremistas que enfrentam Assad, agravando o conflito. Também terão o potencial de alimentar a radicalização dentro da própria Rússia, onde 14% da população é muçulmana de maioria sunita, a mesma orientação dos grupos moderados que se opõem a Assad.

A Rússia enviou 50 aviões à Síria, em sua maior operação militar fora dos limites da antiga União Soviética desde a invasão do Afeganistão, em 1989. 

Os Estados Unidos foram informados dos ataques da quarta-feira com apenas uma hora de antecedência. 

A comunicação foi feita à Embaixada dos Estados Unidos no Iraque por meio de um pedido para que as forças americanas abandonassem o espaço aéreo da Síria - algo que não foi atendido.

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