Ex-chefe do Khmer Vermelho pede absolvição ao tribunal

Diretor de torturas e presídios do regime cambojano afirma que tinha de 'matar ou ser morto'

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Por Redação
Atualização:

O chefe de torturas e presídios do regime cambojano do Khmer Vermelho (1975-79), Kaing Guek Eav, conhecido como Duch, pediu nesta sexta-feira, 27, para que seja absolvido pelo tribunal internacional em que é julgado por crimes contra a humanidade.

 

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Kaing Guek Eav, ou Duch, que dirigiu a notória prisão S-21, é acusado de ter ordenado a morte de mais de 14 mil pessoas. A promotoria pediu na véspera 40 anos de prisão para ele, mas o advogado François Roux solicitou ao tribunal que seja leniente com o réu de 67 anos, alegando que ele cooperou plenamente com o processo. "Solicito à Corte que me ponha em liberdade", disse Duch, ao concluir sua última intervenção em sua defesa, antes que o painel de juízes, três cambojanos e dois estrangeiros, deixe o processo pronto para sentença.

 

A acusação disse que Duch desperdiçou sua última oportunidade para confessar sua verdadeira participação no regime do Khmer Vermelho. O acusado confessou durante este julgamento que ordenou executar a réus, que torturou pessoalmente e que cometeu outros crimes. Porém, ele justificou que tinha de "matar ou ser morto" e agia como uma "máquina obediente", porque o Khmer Vermelho castigava a desobediência com a morte.

 

Duch, que abandonou o budismo e se converteu ao cristianismo, também expressou seu arrependimento e seu pedido perdão aos sobreviventes e os familiares de suas vítimas em várias ocasiões desde que começou o julgamento. Está previsto que a Corte emita a sentença no início do ano que vem.

 

Ele é acusado de "crimes contra a humanidade, escravização, tortura, abusos sexuais e outros atos desumanos" na época em que dirigia a prisão de Tuol Sleng, também conhecida como S-21. As atrocidades ocorridas naquela antiga escola secundária, hoje um museu, estão entre os capítulos mais sombrios do século 20. Apenas sete das 14 mil pessoas que passaram pela S-21 sobreviveram.

 

Duch é o primeiro membro da cúpula do Khmer a ser julgado desde a queda do regime ultracomunista de Pol Pot que provocou a morte de pelo menos 1,7 milhão de cambojanos, o equivalente a um quinto da população do país na época. O regime do Khmer é acusado de promover um dos mais sangrentos massacres do século 20, considerando o porcentual da população afetada pelas execuções, prisões e tortura.

 

Ainda devem ser julgados Khieu Samphan, ex-presidente da República Democrática de Kampuchea; Nuon Chea, "irmão número dois" e ideólogo da organização; Ieng Sary, ex-ministro de Assuntos Exteriores; e sua esposa Ieng Thirit, ex-titular de Assuntos Sociais. Pol Pot, o "irmão número um", morreu na selva cambojana em 1998, quando o Khmer Vermelho estava à beira do desaparecimento pelas deserções e lutas internas.

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