Ex-diretor da campanha de Trump trabalhou para beneficiar interesses de Putin, diz agência

Documentos obtidos pela 'Associated Press' indicam que Paul Manafort manteve contratos com o magnata russo do alumínio Oleg Deripaska, aliado bem próximo do presidente russo, de 2005 a 2009

PUBLICIDADE

Atualização:

Paul Manafort, ex-diretor da campanha eleitoral do presidente americano, Donald Trump, trabalhou secretamente para um bilionário russo para promover os interesses do presidente daquele país, Vladimir Putin, há uma década e propôs um projeto ambicioso de estratégia política para minar a oposição antirussa em toda as ex-repúblicas da União Soviética, afirmou nesta quarta-feira, 22, a Associated Press. A revelação da ligação de Manafort com os russos contradiz as afirmações da administração de Trump e do próprio consultor político de que ele nunca representou interesses russos.

De acordo com várias pessoas familiarizadas com pagamentos a Manafort e registros comerciais obtidos pela Associated Press, o lobista propôs um plano estratégico confidencial em junho de 2005 no qual ele influenciaria a política, negócios e cobertura de notícias dentro dos EUA, Europa e as ex-repúblicas soviéticas em benefício do governo Putin, mesmo com as relações EUA-Rússia sob o governo do presidente republicano George W. Bush piorando.

Paul Manafort organiza comício de Trump em junho de 2016, quando era diretor da campanha republicana; documentos obtidos por agência indicam que ele manteve contrato com bilionário russo de 2005 a 2009 Foto: AFP PHOTO / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Drew Angerer

PUBLICIDADE

Manafort ofereceu o plano para o magnata russo do alumínio Oleg Deripaska, que era aliado bem próximo de Putin, com quem ele assinou um contrato de US$ 10 milhões anuais a partir de 2006, apontam os documentos. Manafort e Deripaska mantiveram uma relação comercial até pelo menos 2009, de acordo com uma pessoa familiarizada com o trabalho.

"Acreditamos que este modelo pode beneficiar amplamente o governo Putin se for aplicado nos níveis corretos e com o comprometimento apropriado", escreveu Manafort em um memorando enviado a Deripaska em 2005. "O esforço oferecerá um grande serviço que pode ser focado, tanto internamente quanto externamente, nas políticas do governo Putin", propôs.

Os planos foram descobertos pela AP em meio a documentos obtidos pela agência que incluem memorandos de estratégia e registros indicando transferências internacionais de dinheiro da ordem de milhões de dólares. Não está claro, no entanto, que tipo de trabalho Manafort executou enquanto duraram os contratos dele com Deripaska.

A divulgação do caso ocorre em meio a uma investigação do FBI para determinar se membros da campanha de Trump agiram de forma coordenada com Moscou para influenciar nas eleições presidenciais. Manafort rejeitou as investigações dizendo serem politicamente motivadas e disse que nunca trabalhou para os interesses da Rússia. 

Em resposta enviada para a AP, Manafort confirmou que trabalhou para Deripaska em vários países, mas disse que suas ações estavam sendo descritas de forma injusta como "inapropriadas ou nefastas" dentro de uma "campanha de difamação".

Publicidade

"Trabalhei com Oleg Deripaska quase uma década atrás o representando em assuntos comerciais e pessoais em países nos quais ele tinha investimentos", afirmou. "Meu trabalho para o Sr. Deripaska não incluiu representar os interesses políticos da Rússia." 

Manafort trabalhou de forma não remunerada como diretor da campanha de Trump de março a agosto do ano passado, quando o republicano pediu sua demissão em razão de documentos divulgados pela Associated Press indicarem que ele tinha orquestrado uma operação em vigor até 2014 para fazer lobby a favor do partido governante na Ucrânia, uma legenda pró-Rússia. / AP