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Ex-espiões americanos duvidam de promessa de transparência da NSA

J. Kirk Wiebe trabalhou durante quase três décadas na Agência de Segurança Nacional e faz parte da linhagem de ex-funcionários que denunciaram abusos cometidos pela NSA em nome da segurança doméstica. Como muitos deles, ele considera que as reformas anunciadas pelo presidente Barack Obama na sexta-feira serão insuficientes para conter o avanço dos serviços de espionagem do país.

Por CLÁUDIA TREVISAN , CORRESPONDENTE e WASHINGTON
Atualização:

"A NSA existe há 61 anos e durante 41 anos deles ela violou claramente as regras que regulam seu funcionamento", disse Wiebe na sexta-feira, em evento organizado pelo Institute for Public Accuracy, em Washington. "Eles estão acostumados a trapacear."

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A seu lado, Russ Tice concordou. "A NSA mente. Não podemos confiar nessas pessoas", disse Tice, que durante 20 anos trabalhou na NSA e outras agências governamentais. Em 2005, ele ganhou notoriedade ao denunciar que a organização grampeava de maneira ilegal telefonemas de cidadãos americanos.

Como Wiebe, ele acredita que as mudanças propostas por Obama estão longe de submeter a NSA aos limites estabelecidos pela Constituição americana. "A conexão com o Big Brother não foi desplugada", afirmou.

A manutenção do programa de metadados foi o alvo de Bill Binney, que renunciou em outubro de 2001 depois de mais de três décadas na NSA, insatisfeito com os rumos que a agência tomou sob George W. Bush na esteira dos atentados de 11 de Setembro.

Binney defendeu a eliminação do programa e sua substituição por investigações que tenham alvos específicos. O governo americano sustenta que a coleta indiscriminada de metadados é constitucional porque não revela o conteúdo das chamadas telefônicas - apenas os números de origem e destino e a duração das conversas.

Essa vigilância aparentemente inofensiva pode revelar mais sobre os que são monitorados do que as próprias conversas, que demandariam mais tempo e recursos para serem acompanhadas, observaram os analistas.

Além disso, a manutenção de informações de virtualmente todos os cidadãos permite que os agentes de segurança retrocedam no tempo para criar acusações criminais contra quem se tornar suspeita por alguma razão. Depois que elas entram no radar da NSA, os agentes podem analisar seus padrões de comunicação e comportamento anteriores para construir suas acusações, sustentou Binney.

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Wiebe disse que a análise das "migalhas eletrônicas" expostas pelos metadados formam ao longo do tempo um quadro mais revelador sobre as pessoas do que a escuta telefônica. Por isso, deveria estar sujeita às mesmas restrições constitucionais e só poderia ser obtida por meio de mandatos judiciais.

Obama manteve a ampla coleta de metadados, mas determinou que os agentes da NSA obtenham autorização judicial antes de "garimpar". O presidente também criou um grupo de trabalho que terá a missão de propor a transferência das informações para uma entidade privada, o que evitaria abusos do governo. Para os defensores do direito de privacidade, o programa deveria simplesmente acabar.

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