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Ex-militantes querem Taleban no governo afegão

Ex-membros anistiados defendem participação do grupo, mas esforço de reconciliação e união não deu resultados

Por CLÁUDIA TREVISAN e CABUL
Atualização:

Quando as torres do World Trade Center ruíram nos atentados de 11 de setembro de 2001, Hakim Mujahid era o representante do regime Taleban na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Hoje, ele mora em Cabul e é um dos responsáveis pelas negociações de paz entre o governo do Afeganistão e seus ex-companheiros, protagonistas de uma insurgência armada que ganha cada vez mais espaço.Como Mujahid, vários ex-integrantes do Taleban foram anistiados pelo presidente Hamid Karzai nos últimos anos, em um esforço de reconciliação nacional que até agora não levou a resultados. Entre eles, está Mohammed Akbar Agha, preso no Paquistão em janeiro de 2005 e condenado a 16 anos de prisão no Afeganistão sob a acusação de planejar o sequestro de três observadores eleitorais da ONU em 2004. Depois de cumprir cinco anos da pena, Agha foi perdoado por Karzai e libertado em dezembro de 2009. Em entrevistas separadas ao Estado, ambos sustentaram que um eventual governo de unidade nacional no Afeganistão deve incluir o Taleban. "Após 13 anos de guerra, esse é o momento de reconciliação, que deve incluir a oposição armada, a oposição política e o governo", declarou Mujahid.Como muitos dos integrantes do regime do Taleban, ele se refugiou no Paquistão depois dos atentados do 11 de Setembro. Em 2005, foi autorizado a voltar a Cabul, onde se reintegrou à vida política e assumiu o posto de vice-presidente do Alto Conselho de Paz, organismo encarregado de conduzir as negociações com os insurgentes.Agha era um dos comandantes militares do Taleban, responsável por defender a região ao sul de Cabul. Os extremistas islâmicos governaram o Afeganistão de 1996 a 2001. Eles proibiram música e imagens estáticas ou em movimento e confinaram as mulheres à vida doméstica e à burca. A ordem era mantida com execuções públicas dos acusados de violar princípios religiosos.Também refugiado no Paquistão depois de 2001, Agha criou um grupo que realizava ataques contra as forças internacionais no Afeganistão. Acabou preso em 2005 em uma ação coordenada da CIA e do serviço de inteligência do Paquistão. Na entrevista ao Estado, ele disse ter abandonado o Taleban, mas não perdeu a simpatia pela organização nem desistiu da atuação política - o ex-comandante organiza um movimento que inclui em sua plataforma a proibição de afegãos estudarem no exterior."O Taleban é poderoso em razão das boas memórias que as pessoas têm da paz e estabilidade que trouxe ao país", afirmou Agha, ressaltando a "desordem" política em que o Afeganistão está mergulhado. Três meses depois do 2.º turno das eleições presidenciais, ainda não se sabe quem liderará o país. Os candidatos Ashraf Ghani e Abdullah Abdullah costuravam ontem os pontos finais de um acordo para a formação de um governo de unidade nacional, mas ainda havia divergências sobre a linguagem que seria usada no eventual anúncio do pacto. Segundo Agha, o Taleban está expandindo sua presença nas áreas rurais - onde vive 80% da população. Parte do avanço ocorre após a retirada das tropas estrangeiras que entraram no país há 13 anos. O número de soldados já caiu de 44 mil para 30 mil e deverá diminuir para 12,5 mil em dezembro. "A realidade é que 80% do Afeganistão está sob controle do Taleban. A única exceção são as grandes cidades", estimou Mujahid.Com o avanço do Taleban e a perspectiva de retirada de tropas do país, os EUA tentaram negociar um acordo de paz com a organização. No ano passado, representantes do governo americano e do grupo radical islâmico se encontraram no Catar, mas as conversações não avançaram. Em janeiro, a Casa Branca pediu ao Taleban que abandonasse as armas e voltasse às negociações, depois de a organização realizar um ataque suicida que matou 21 pessoas em Cabul - 13 delas estrangeiras.O Taleban exige a saída de todas as tropas internacionais do Afeganistão para voltar às negociações de paz. Apesar da redução prevista para dezembro, o cronograma dos EUA prevê que a missão no país só estará concluída em 2016.

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