PUBLICIDADE

Ex-mulher de líder do Estado Islâmico quer vida nova na Europa ao lado da filha

Saja al-Dulaimi, de 28 anos, conta como foi viver ao lado do homem mais procurado do mundo e como é a vida após a liberdade

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Em sua primeira entrevista desde que foi libertada de uma prisão libanesa em 2015, Saja al-Dulaimi, de 28 anos, lembrou à afiliada da CNN na Suécia, Expressen TV, como é ser a ex-mulher de Abu Bakr al-Baghdadi, líder do grupo jihadista Estado Islâmico e o homem mais procurado do mundo. A emissora conversou com ela em um local secreto perto da fronteira do Líbano com a Síria.

Nascida no Iraque em uma família conservadora de classe média-alta, Saja se casou com Baghdadi em 2008. Ele não era um terrorista sanguinário na época, segundo ela. “Casei com uma pessoa normal, um professor universitário”, disse. “Ele era um homem de família.”

Abu Bakr al-Baghdadi, líder do grupo jihadista Estado Islâmico Foto: AP

PUBLICIDADE

Saja não era a única mulher de Baghdadi. Ela o dividia com outra mulher. “Ele ia para o trabalho e voltava para casa para sua família”, contou. “Ele era ótimo. Era o pai ideal para uma criança. O jeito que ele tinha com as crianças… Ele sabia como lidar com as crianças, melhor do que lidava com a própria mãe.”

Mas os dois não se falavam muito como outros casais fazem. A razão? Ele tinha uma “personalidade misteriosa”, respondeu Saja.

Mia Bloom, professora na Universidade do Estado da Georgia e especialista em terrorismo, acha “concebível que Baghdadi vivia uma vida dupla” da qual sua mulher não sabia muito a respeito. “A ideia de que ele não falava nada para ela era porque ela não estava interessada no outro lado dele, o lado mujahid”, explicou Mia.

A união deles, segundo Saja, acabou há sete anos, depois de três meses juntos. Ela disse que fugiu de Baghdadi após ficar grávida. Apesar de não explicar exatamente os motivos para a fuga, afirmou: “eu não era feliz”. E disse que não o amava. “O fato de eu ter saído é a prova disso.”

Baghdadi tentou recuperar a mulher várias vezes. A última vez que eles se falaram foi em 2009, quando ele novamente tentou tê-la de volta. Saja não contou que teve uma filha dele. Contudo, ele descobriu um tempo depois. “Ele disse que levaria ela quando eu me casasse de novo”, disse.

Publicidade

Segurança. Saja está preocupada com a segurança de sua filha. “Tenho medo de todo mundo, isso é o que está acontecendo”, disse.

Ela está muito preocupada pela garota, que quer declaradamente ter a oportunidade de estudar no exterior. “Ela é quem sofre agora”, disse a mãe. “Ela tem a desgraça do mundo inteiro em seus ombros.”

Agora Saja sonha com uma vida ao lado da filha na Europa. Ela quer que a garota vá para a faculdade e acredita que esta seria uma vida melhor e mais segura. “Quero morar em um país europeu, não em um país árabe”, disse. “Quero que meus filhos vivam e tenham educação. Mesmo que a mãe dela tenha sido casada com Abu Bakr al-Baghdadi, um terrorista, que culpa a criança tem?”.

Marcada. Saja foi presa em 2014 no Líbano após sair da Síria naquilo que uma fonte especializada no assunto chamou de “operação planejada”.

Um ano depois, autoridades a libertaram, assim como um grupo de islâmicos, em troca das tropas libanesas capturadas pela Frente Al-Nusra, explicou um oficial de segurança que não quis se identificar.

A Al-Busra, qualificada por algumas organizações como “muito mais perigosa para os EUA do que o Estado Islâmico”, tem várias ligações com Saja. O irmão dela é uma figura de importância no grupo e seu atual marido é suspeito de ter envolvimento com a Frente, segundo outra fonte da segurança libanesa.

Saja destacou que acredita que sempre será lembrada como a ex-mulher de Baghdadi, como alguém que apoia o terror. “Estou marcada como uma terrorista, mas estou longe disso”, afirmou.

Publicidade

“Ninguém que carrega um fardo deveria carregar o fardo de outra pessoa. Onde está a minha culpa se eu me casei com ele em 2008? Estamos divorciados agora. Fui eu quem deixou ele, não o contrário.”

Saja foi presa no Líbano em dezembro de 2014 enquanto tentava entrar no país após sair da Síria. “Agora eu quero me estabelecer”, disse. “Se eu quisesse viver com ele, teria uma vida de princesa. Poderia ter me mudado com ele e ter muito dinheiro. Mas eu não quero dinheiro.”

Ela quer mais: “Quero viver em liberdade, viver como qualquer outra pessoa.”

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.