Ex-procuradora venezuelana levará à Corte Internacional provas da repressão do governo Maduro

Luisa Ortega Díaz garantiu que as evidências que recolheu apontam para execuções, e qualificou como ‘fraude’ as eleições regionais marcadas para este fim de semana no país

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Por Jamil Chade , correspondente e Genebra
Atualização:

GENEBRA - A procuradora-geral afastada da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, revelou que levará provas da repressão do governo de Nicolás Maduro à Corte Penal Internacional, antes do fim do ano. Em entrevista em Genebra depois de reuniões na ONU, a venezuelana garantiu que as evidências que recolheu apontam para execuções e ainda denunciou o que ela chama de “fraude” nas eleições marcadas para este fim de semana para governadores regionais no país.

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“Vou para Haia e já tenho preparada a denúncia que apresentarei à Corte Penal Internacional por violações de direitos humanos na Venezuela”, anunciou Ortega. Por anos ela foi próxima ao governo chavista, mas acabou sendo afastada depois de romper com Caracas.

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Luisa Ortega Díaz afirma que não há sinais de que a crise na Venezuelatenha perdido força, apesar do fim dos protestos Foto: EFE/JUAN PAEZ

Segundo ela, seu trabalho incluirá “relatórios de autópsias nos quais se evidencia execuções de pessoas, com disparos de cima para baixo, o que significa que elas provavelmente estavam de joelhos”. “Temos reconhecimento médico que evidenciam torturas, além de análise balística”, disse a ex-procuradora.

“O que temos são provas importantes para a Corte Penal, além de um número grande de testemunhas que foram perseguidas pelo governo venezuelano”, explicou. Segundo Ortega, a denúncia incluirá supostos crimes cometidos nos últimos cinco anos.

Na ONU, apesar da pressão de certos governos, nenhuma resolução conseguiu sequer ser elaborada para denunciar Maduro nos diferentes órgãos da entidade. Caracas, ao longo de anos, costurou um forte apoio entre governos do Movimento de Países Não-Alinhados. O presidente chavista ainda conta com o apoio chinês e russo.

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Ortega afirmou, porém, que não há sinais de que a crise no país tenha perdido força, apesar do fim dos protestos. “As prisões continuam sem ordens judiciais, com violações de direitos humanos. Milhares de venezuelanos estão sendo presos ainda sem provas. Os defensores que são oferecidos aos presos são de confiança do governo e dos militares”, denunciou. “Portanto, não há justiça e nem liberdade. Não existe democracia e estamos diante de um estado policial, estamos diante de uma ditadura."

A ex-procuradora rejeita a visão apresentada pelo governo de que a situação estaria mais tranquila. “O problema é que as pessoas estão mais reprimidas e mais escravizadas. Além disso, o governo obrigou milhares de venezuelanos a abandonarem o país. Não pela via migratória, pois se anulam passaportes com frequência. Mas saem fugindo, como se fossem delinquentes."

Em Genebra, Ortega se reuniu com o Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Zeid Al Hussein, e fez um alerta sobre as eleições para governadores que serão realizadas no fim de semana.

“A Comissão Nacional Eleitoral é um braço executor do governo”, disse. “Eles desenharam estratégias com o governo para evitar que os venezuelanos possam votar livremente. Pressionaram os trabalhadores, pressionaram os funcionários públicos para que votem pelos candidatos do governo e ainda perseguiram a dissidência política e oposição”, insistiu. “Estou fazendo uma advertência à comunidade internacional. Que se dê seguimento às eleições que vão ser realizadas. Com certeza encontraremos irregularidades.”

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