Expropriação levanta suspeitas na Argentina

Legislativo prepara estatização de gráfica que imprimia cédulas de 100 pesos e seria controlada por vice de Cristina

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Por Ariel Palacios e correspondente em Buenos Aires
Atualização:

BUENOS AIRES - A Câmara de Deputados da Argentina prepara-se para votar a expropriação da Companhia Sul-Americana de Valores, mais conhecida por seu antigo nome, Ciccone Calcográfica, especializada na impressão de notas de pesos argentinos.

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Tudo indica que o projeto de lei da presidente Cristina Kirchner - com o qual o governo pretende obter o que denomina "soberania nacional monetária" - será aprovado com ampla margem de votos. A maior parte da oposição dispunha-se a votar contra o projeto, por considerar que a expropriação é desnecessária e o objetivo de Cristina é o de acobertar um escândalo de corrupção que envolve a empresa e seu vice-presidente, Amado Boudou.

"Não tem a ver com soberania nacional. É uma tentativa de acobertamento", acusou o deputado Ricardo Alfonsín, filho do ex-presidente Raúl Alfonsín, da União Cívica Radical (UCR), de oposição. Os parlamentares que criticam a expropriação ressaltam que o governo não divulgou o nome dos donos da empresa, nem sequer qual será o montante da indenização que o Estado argentino pagará aos desconhecidos proprietários. A ex-candidata presidencial e líder da Coalizão Cívica, Elisa Carrió, acusou: "Não há dúvidas de que Amado Boudou é o proprietário desta empresa".

O governo sustenta que a expropriação pretende "assegurar a continuidade" das atividades da empresa e garantir a "soberania do Estado argentino na produção de moeda". Nos últimos dois anos, por causa da escalada inflacionária e a falta de capacidade da Casa da Moeda de atender a demanda crescente de emissão de cédulas, o governo recorreu à terceirização da impressão de notas de pesos à Casa da Moeda do Brasil e à Companhia Sul-Americana de Valores.

A companhia tornou-se o foco do escândalo de corrupção que abala o governo Kirchner desde dezembro, quando investigações jornalísticas, posteriormente aprofundadas pela Justiça, revelaram indícios de que o vice-presidente Boudou teria favorecido amigos na compra da gráfica, que poucos anos antes estava a ponto de falir. Depois, Boudou teria favorecido a empresa para conseguir o contrato de impressão de notas de 100 pesos. Além disso, no ano passado a gráfica imprimiu as cédulas eleitorais usadas por Cristina e sua lista de candidatos - na Argentina, cada partido manda imprimir suas cédulas por conta própria e depois coloca as folhas na seção eleitoral, à disposição do eleitor. Desta forma, Boudou tornou-se suspeito de enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e negociações incompatíveis com a figura de funcionário público. 

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