Família de Kony se diz 'amaldiçoada' por ações de guerrilheiro ugandense

BBC conversou com a irmã de Joseph Kony durante uma caçada ao líder do Exército de Resistência do Senhor, procurado desde 2005.

PUBLICIDADE

Por BBC Brasil
Atualização:

No norte de Uganda, berço da guerrilha Exército de Resistência do Senhor, a maioria das vidas foi de alguma forma tocada pelo conflito que se arrasta desde os anos 1980 - inclusive as vidas dos próprios familiares de Joseph Kony, o líder do grupo extremista. A irmã mais velha de Kony, Gabriela Lakot, ainda mora em Odek, a aldeia onde o líder guerrilheiro nasceu, em 1961. "Deus amaldiçoou nossa família - essa é a dor da minha mãe", diz Lakot. "Kony trouxe tantos problemas para nós. Todos nos odeiam." Kony é procurado desde 2005 pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), por crimes de guerra como estupros em massa, assassinato de civis e recrutamento de soldados mirins. Sua guerrilha, cuja atuação se expandiu do Quênia a outros países da região - República Centro-Africana, Sudão do Sul e República Democrática do Congo - foi criada com o objetivo de levar um regime fundamentalista cristão ao poder em Uganda. Mas é acusada pelo sequestro de 30 mil crianças, empregadas como soldados mirins e escravos sexuais. Lakot culpa o irmão também pela morte de seu filho. "Meu primogênito levou um tiro do Exército de Uganda quando estava com Kony. A culpa é dele." Ela foi encontrada pela equipe do programa Panorama, da BBC, que acompanhou a caçada do Exército ugandense pelo líder guerrilheiro. O programa vai ao ar nesta segunda-feira na Grã-Bretanha. Fuga Durante a busca, no coração da selva da República Centro-Africana, cerca de 2 mil soldados caminham em busca do LRA. Os soldados atravessam a floresta até se depararem com um acampamento abandonado, que acreditam ter sido usado por cerca de 50 combatentes do Exército de Resistência do Senhor (LRA, na sigla em inglês) nas duas semanas anteriores. Mas ficaram para trás Doreen Abango e seu filho de cinco anos, que ela diz ser filho também de Kony. Doreen conta que foi sequestrada pelo LRA quando tinha 13 anos e conseguiu escapar apenas dez dias antes de ter sido encontrada pelos soldados ugandenses. "Comecei a caminhar durante a noite com meu filho. Não deixei rastros, porque se fosse encontrada seria morta", diz. Golpes e notoriedade Hoje, o Exército ugandense diz que sobraram algumas centenas de combatentes do LRA, e o grupo não tem mais o poder que detinha na década de 1980. Mas a guerrilha ganhou as manchetes internacionais em abril, por conta de um vídeo sobre Kony produzido por uma ONG americana e assistido por milhões de pessoas no YouTube. Em maio, o grupo sofreu um duro golpe, com a prisão de Caesar Achellam, líder sênior dos guerrilheiros e um dos principais aliados de Kony. Apesar do cerco, Achellam diz que Kony nunca vai se render, temendo ser entregue ao TPI. "Kony tem medo, muito medo, das acusações contra ele em Haia (onde fica o tribunal)", afirmou. A caçada a Kony é feita por uma missão internacional da União Africana, com a assistência de cerca de cem soldados enviados pelos EUA no ano passado. Mas, para o presidente de Uganda, Yoweri Museveni, é preciso mais financiamento externo para que ocorra a prisão do líder guerrilheiro. "É uma missão internacional, não pode ser financiada com recursos domésticos", diz Museveni. "Cabe à comunidade externa ajudar." Uma dos ministros de Museveni, Betty Bigombe, diz ter feito contato com Kony e pedido que ele se entregasse. Mas, segundo Bigombe, Kony disse prever que vai "morrer como Hitler". "Ele me disse: 'eu sei exatamente como vou morrer - como Hitler. Um dia as pessoas vão acordar e descobrir que eu já estarei morto há algum tempo'." BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.