BUENOS AIRES - No primeiro semestre deste ano, o ex-presidente Tabaré Vázquez, embora fosse ainda pré-candidato da coalizão de centro-esquerda Frente Ampla, era apontado como o virtual vencedor das eleições presidenciais de domingo que vem no Uruguai. O prognóstico era o de que ele venceria no primeiro turno, manteria seu partido - no poder desde 2005 - no topo da política até 2020 e conquistaria maioria parlamentar. A chance de uma vitória tranquila de Vázquez na votação, porém, se desvaneceu ao longo do último mês e meio com o inesperado e persistente crescimento nas pesquisas de intenção de voto do candidato Luis Lacalle Pou, de 41 anos, do Partido Nacional (ou "Blanco"). E é sob este clima de suspense que os uruguaios não viviam desde as acirradas eleições de 1999 que os partidos políticos entram hoje na última semana de campanha. Daqui a uma semana, no mesmo dia das eleições no vizinho Brasil, os uruguaios vão às urnas para o seu primeiro turno presidencial. Além disso, renovarão o Senado e a Câmara de Deputados, além de votar em um plebiscito sobre a eventual redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Uma pesquisa elaborada pela consultoria Equipos Mori indica que a Frente Ampla contaria com 41% dos votos, enquanto o Partido Nacional obteria 28% e o Partido Colorado 15%. O Partido Independente ficaria com 3%, e a União Popular, de esquerda, constituída por dissidentes da Frente Ampla decepcionados com o "baixo esquerdismo" do presidente José Mujica e de Vázquez - aos quais definem ironicamente como "socialistas pasteurizados" -, contaria com 1%. O Partido Ecologista, formado por grupos também descontentes com os governistas, receberia 1% dos votos. Outra pesquisa, da consultoria Factum, mostra a Frente Ampla com 42% das intenções de voto e o Partido Nacional com 32%. Os colorados obteriam 15% dos votos e os independentes receberiam 3%. A Unidade Popular e o Partido Ecologista teriam 1% cada um. Uma pesquisa da Equipos Mori indicou na quinta-feira que o governista presidente Mujica conta com 56% de aprovação popular. No entanto, Mujica não pode ser candidato, já que a Constituição uruguaia proíbe a reeleição presidencial consecutiva. O analista político e de opinião pública Oscar Bottinelli, disse ao Estado que "o estancamento da Frente Ampla é um fenômeno que estava ocorrendo desde 2010, ficando sempre entre 41% e 44% das intenções de voto. Mas tudo indicava que Vázquez permitiria superar essa faixa". No entanto, segundo Bottinelli, setores mais à esquerda da Frente Ampla "sentiram que Vázquez não faria as mudanças revolucionárias que eles esperavam e foram embora, fundando a Unidade Popular. Além disso, as classes médias e classes altas, que foram as menos favorecidas pelo governo da Frente Ampla, também se indispuseram com Vázquez. E os setores médio-baixo e baixo, apesar de receberem vários benefícios deste governo, estão irritados com o crescimento da criminalidade". Bottinelli afirma que a educação teve "uma revolução" com o Plano Ceibal, que distribuiu a cada estudante um laptop, além de acesso gratuito à internet para esses alunos. "Mas o restante do setor educativo está cada vez com mais dificuldades", ressalta. Segundo o analista, o surgimento de Lacalle Pou "é um fenômeno com efeitos psicológicos e sociológicos interessantes", já que propicia "uma sensação de renovação de gerações, mais ainda em um país envelhecido como o Uruguai, onde a média de idade do eleitorado é 44 anos, nível que coloca o país como um dos três países com a média de idade mais alta. E, além disso, Lacalle Pou é 3 anos mais novo que essa média".Nas ruas. Milhares de jovens participam de manifestação contra a diminuição da maioridade penal em Montevidéu