Fogo cruzado entre Israel e Irã deixa Oriente Médio à beira de novo conflito

Os ataques revelaram ao mundo a “guerra nas sombras” travada por Israel e Irã desde o começo da guerra civil na Síria, que se intensificou nos últimos meses

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Por Redação
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JERUSALÉM - A relação entre Israel e Irã atingiu nesta quinta-feira, 10, o ponto mais tenso desde a Revolução Islâmica de 1979. Os israelenses bombardearam inúmeros alvos iranianos na Síria em represália a um ataque de mísseis iranianos nas Colinas do Golan. O conflito ameaça levar a região a uma guerra caso a escalada de violência não seja interrompida. EUA, Reino Unido e Alemanha criticaram o Irã. A Rússia pediu diálogo para contornar a crise. 

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"Foram atingidas posições das forças iranianas e posições ligadas ao sistema de defesa antiaérea síria na área de Damasco e no sul da Síria", afirmou o Ministério da Defesa da Rússia Foto: EFE/Oficina de prensa militar siria

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As agressões começaram na noite de quarta-feira, quando o Irã, pela primeira vez na história, atacou diretamente Israel. Ao menos 20 foguetes foram lançados contra as forças israelenses nas Colinas do Golan. O ataque foi uma resposta a bombardeios de Israel no território sírio, em lugares onde estão as Forças Al-Quds, tropa de elite da Guarda Revolucionária do Irã, responsável por operações no exterior. Em resposta, 28 jatos israelenses bombardearam dezenas de alvos na Síria, a maior intervenção militar israelense no vizinho desde 1973.

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Os ataques revelaram ao mundo a “guerra nas sombras” travada por Israel e Irã desde o começo da guerra civil na Síria, que se intensificou nos últimos meses. “Os ataques de ambos os lados nas últimas 24 horas representam uma escalada perigosa, mas não surpreendente”, disse ao site Vox Shanna Kirschner, especialista em Irã do Allegheny College. 

Segundo ela, os iranianos passaram os últimos sete anos usando o caos da guerra civil síria para ganhar mais controle na região. A situação incomoda Israel, que passou a usar a força militar para conter a influência do Irã. Desde o começo da guerra civil na Síria, em 2011, Israel atingiu o país mais de 100 vezes, em parte porque está preocupada com a crescente presença militar de Teerã no país.

Com o avanço das forças de Bashar Assad na Síria, apoiadas por Rússia e Irã, os iranianos expandiram seu campo de ação no território sírio. Em resposta, Israel intensificou seus ataques no mês passado. Em 9 de abril, matou sete soldados iranianos na Síria. Teerã ameaçou retaliar, mas não fez nada. 

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Em 8 de maio, no mesmo dia em que Trump retirou os EUA do acordo nuclear, Israel colocou-se em “alerta máximo” para um possível ataque iraniano. A chuva de foguetes sobre as Colinas do Golan, na quarta-feira, parece ter sido uma resposta ao ataque de Israel em 9 de abril.

“Está claro que o conflito entre Israel e Irã passou para uma nova fase”, afirmou James Jeffrey, especialista em segurança do Oriente Médio do centro de estudos Washington Institute for Near East Policy. “Israel e Irã intensificaram seus ataques um contra o outro e há um risco significativo de o conflito sair do controle. É uma situação extremamente perigosa.”

Na quinta-feira, 10, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou que seu país reagiu porque “o Irã cruzou uma linha vermelha.” O ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, disse que espera que “este capítulo tenha acabado e todos tenham recebido a mensagem”. O presidente iraniano, Hassan Rohani, adotou um tom conciliador, observando que Teerã não queria “novas tensões” na região. O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, e os políticos conservadores do país não se manifestaram.

Em comunicado, a Casa Branca disse que “apoia o direito de Israel agir em autodefesa”. Alemanha e Reino Unido criticaram o Irã. A Rússia, aliada de Irã e Síria, pediu diálogo. “Esta é uma troca de agressões muito preocupante”, disse o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov. Ele afirmou que Moscou havia alertado Israel para que evitasse “ações que pudessem ser vistas como provocativas”. / NYT e W.POST