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Fragilizados, socialistas elegem Benoît Hamon para disputar Eliseu

Hamon, de 49 anos, terá a difícil tarefa de unificar um partido dividido, com poucas chances de se manter no poder

Atualização:

PARIS - Benoît Hamon, crítico da guinada liberal do governo socialista, venceu com folga, neste domingo, 29, a indicação do partido do governo às presidenciais francesas, em abril, em um duro revés para o ex-primeiro-ministro Manuel Valls.

Hamon, de 49 anos, terá a difícil tarefa de unificar um partido fragmentado que, segundo todas as pesquisas de opinião, tem poucas chances de se manter no poder, após o questionado quinquênio do presidente François Hollande, que não quis disputar a reeleição.

Benoît Hamon será o candidato do Partido Socialista na eleição de abril Foto: Reuters

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"Estou convencido de que frente a uma direita de privilégios, conservadora, e de uma extrema direita destruidora, nosso país precisa de uma esquerda que pense o mundo como é e não como foi, uma esquerda capaz de encarnar um futuro desejável", declarou Hamon ao discursar para uma multidão de simpatizantes que repetia o seu nome.

Representante da ala esquerda do Partido Socialista, Hamon venceu o segundo turno das primárias socialistas com 58,6% dos votos contra 41,35% para Valls, de 54 anos, segundo resultados parciais. O resultado representou um duro revés para o ex-premiê Valls, espanhol de nascimento e considerado herdeiro político de Hollande, o presidente francês mais impopular das últimas décadas.

Hamon terá três meses para dar um impulso à sua campanha quando, segundo todas as pesquisas de opinião, nenhum candidato de esquerda passaria do primeiro turno das presidenciais, em 23 de abril.

A candidata da ultra-direita, Marine Le Pen, e o conservador François Fillon aparecem como favoritos para se eleger, em 7 de maio, o(a) próximo(a) presidente da França. No entanto, em uma campanha cheia de surpresas, os socialistas esperam contrariar as sondagens.

A campanha de Fillon, o candidato que parecia ter mais chances de chegar ao Eliseu, segundo as pesquisas, sofreu esta semana um golpe potencialmente devastador, devido às suspeitas de que teria colocado a própria esposa em um cargo fantasma, o que teria lhe rendido meio milhão de euros.

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A este caso, investigado pela procuradoria nacional financeira, soma-se uma acusação de desvio de verbas públicas quando foi senador.

Decepção dos eleitores. Benoît Hamon, ex-ministro da Educação, rompeu com Hollande em 2014, descontente com a guinada liberal do Executivo socialista, antes de se lançar na corrida presidencial, em agosto, defendendo "um novo modelo de desenvolvimento".

Este socialista rebelde reivindica um programa "totalmente à esquerda", com forte conteúdo social e ambientalista, que conquistou sobretudo os eleitores mais jovens.

Para fazer face à "revolução digital", que trouxe consigo uma "redução do trabalho", este deputado defende uma redução da jornada de trabalho para 32 horas semanais, uma medida que visa a diminuir o desemprego, que beira os 10%.

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Ele propõe, ainda, implementar uma renda básica universal, que garantiria a todos os franceses maiores de 18 anos uma renda de 750 euros mensais para lutar contra a precariedade.

Manuel Valls, por sua vez, que executou com mão de ferro a política de reformas do Executivo, foi censurado pelos eleitores, decepcionados com a política do governo, que consideram contrária aos valores da esquerda, sobretudo após a adoção de leis para liberalizar a economia e o mercado de trabalho.

"Entre os candidatos socialistas, Valls era claramente quem mais encarnava a herança do governo socialista, basicamente porque foi ele quem dirigiu a política econômica e social do Executivo", explicou Federico Vacas, diretor adjunto do departamento político do instituto IPSOS.

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Além de Le Pen e Fillon, Hamon terá que enfrentar no primeiro turno das presidenciais dois dissidentes socialistas: o ex-ministro sensação de Hollande, Emmanuel Macron, um novo rosto na política francesa, que atrai milhares de pessoas aos seus comícios, e o queridinho da extrema esquerda, Jean-Luc Mélenchon.

Ambos, segundo as pesquisas, superariam o candidato socialista nas eleições presidenciais.

Só uma aliança entre os dois, um cenário que agora parece impossível evitaria que a esquerda fique ausente do segundo turno das presidenciais, repetindo o terremoto político de 2002, quando o ultradireitista Jean-Marie Le Pen eliminou o candidato socialista no primeiro turno.

Os franceses elegerão seu novo presidente para os próximos cinco anos em dois turnos: em 23 de abril e em 7 de maio. / AFP

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