O escritor, antropólogo e filósofo brasileiro Frei Betto recebeu com otimismo o anúncio da aproximação dos Estados Unidos e Cuba para negociar a retomada de relações diplomáticas entre os dois países. "O início do fim do bloqueio tem outras implicações", explicou o frade dominicano. "Para as Américas, consolida o fim da Guerra Fria."
O frade dominicano, que foi perseguido e preso durante a ditadura no Brasil, disse que o reconhecimento de Obama de que o isolamento não funcionou é uma vitória para Cuba. "Foram eles que iniciaram o bloqueio e eles mesmos o levantarão", disse ele. "Estou realmente feliz, o bloqueio não se justificava."
Para o escritor, o papa Francisco teve um papel preponderante na aproximação dos líderes. Segundo ele, em março, o pontífice discutiu o assunto longamente com o presidente americano, Barack Obama.
Sobre a abertura econômica da ilha e a manutenção dos ideais revolucionários, o antropólogo disse estar certo de que as duas coisas não são excludentes. "O levantamento do bloqueio será importante para áreas como o turismo e a produção de charutos", disse. "Quanto aos ideais revolucionários, não creio que muita coisa mudará; os cubanos não são consumistas como os brasileiros."
Frei Betto tem uma longa relação com Fidel Castro, que ficou no poder até 2006. Todos os anos, ele viaja para Havana e se encontra com o ex-líder cubano. Está convencido de que Fidel teve um papel importante na decisão de não libertar o espião americano Alan Gross enquanto os três agentes cubanos presos nos Estados Unidos não fossem soltos.
Carlos Alberto Libânio Christo, nome real de Frei Betto, é autor de "Fidel e a Religião" (1985), livro que se baseia em uma longa entrevista com o então presidente de Cuba, que falou sobre sua formação pessoal e sua visão de religião.