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Fuga para Europa já matou 2 mil no Mediterrâneo

Dados de 2015 da Organização Internacional para a Migração mostram aumento da chegada ilegal de estrangeiros ao continente

Por ANDREI NETTO , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

PARIS - A imigração pelo Mar Mediterrâneo superou a barreira simbólica de 2 mil mortos em 2015, segundo cálculos revelados nesta terça-feira, 4, pela Organização Internacional para a Migração (OIM). No mesmo período do ano passado, o número de vítimas da travessia havia chegado a 1.607, o que indica que 2015 tende a ser o ano com maior número de mortos desde que a contabilização começou a ser realizada.

O dado também comprova a aceleração da migração para a Europa, quem vem mobilizando a opinião pública e de governos de países como Grã-Bretanha, França e Alemanha.

Barreira da polícia contra os estrangeiros que tentam ingressar na área do Eurotúnel em Calais, na França Foto: ANDREI NETTO/ESTADAO

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O novo balanço indica que mais de 150 mil imigrantes chegaram à Europa após atravessar as águas do Mar Mediterrâneo neste ano. O ponto crítico de chegada continua a ser a costa da Itália, que recebeu um total de 97 mil pessoas nos sete primeiros meses do ano. 

A Grécia, país em plena crise financeira, é o segundo porto de desembarque em território europeu, com 90,5 mil imigrantes em 2015. “Infelizmente, nós chegamos neste final de semana a um nível de mais de 2 mil migrantes e refugiados mortos”, confirmou Itayi Virri, porta-voz da OIM. 

Em termos de letalidade, as duas rotas não têm comparação: enquanto a primeira teria vitimado 1.930 pessoas, a segunda deixou cerca de 60 mortos. A diferença se explica porque a extensão do percurso é muito inferior entre a Turquia e o solo grego.

De acordo com o Alto Comissariado para Refugiados das Nações Unidas (Acnur), a rota grega ganha cada vez mais importância, com a chegada de cerca de mil refugiados todos os dias às suas costas – o dobro do ritmo verificado em 2014.

Um terceiro trajeto, terrestre, que envolve a passagem pela Macedônia e depois pela Sérvia, na direção do Norte da Europa, passando pela Alemanha, também tem crescido.

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Esse percurso é frequentemente usado por migrantes que chegam ao Porto de Calais, conforme o Estado verificou nos acampamentos improvisados no norte da França. A rota é privilegiada por grande parte dos que fogem da guerra civil na Síria e da violência e da instabilidade política em países como o Afeganistão. 

Sobre a situação em Calais, a OIM pediu hoje à União Europeia que coloque em prática medidas para auxiliar os estrangeiros que acampam na região à espera de uma oportunidade para ultrapassar o Canal da Mancha e chegar à Grã-Bretanha.

Estima-se que pelo menos 3 mil pessoas estejam na região de Calais, onde as mortes também têm se multiplicado – embora em número incomparável com o Mediterrâneo. Desde junho, dez pessoas morreram tentando embarcar em trens e caminhões que cruzam o Eurotúnel.

“A OIM acredita que a dimensão humana da situação em Calais deve se tornar uma prioridade, já que a França e a Grã-Bretanha estão confrontadas com importantes problemas de segurança e distúrbios ao turismo e ao comércio”, afirmou o diretor-geral da entidade, William Lacy Swing.

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Absorsão. Para a organização, o número de migrantes que chega à União Europeia não é demasiado e pode ser absorvido tendo em conta o tamanho da população do bloco – mais de 500 milhões de habitantes –, seu território e recursos.

Autoridades europeias, porém, pensam diferente. Na segunda-feira, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, David Cameron, apresentou um projeto de lei de redução dos direitos sociais de migrantes e de punições a britânicos que alugarem apartamentos ou prestarem ajuda aos estrangeiros – medidas desenhadas para supostamente reduzir a atratividade do país. O tema, polêmico, causa a reação de especialistas na Europa. “Reduzir as ajudas ao quem solicita asilo é uma medida clássica que nunca teve efeito”, adverte Matthieu Tardis, expert em imigração do Instituto Francês de Relações Internacionais. “Se os migrantes fogem de seus países é porque enfrentam questões de vida ou morte.”

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