‘Fui internado seis vezes porque tenho uma mediunidade', diz Jonatan Diniz

Brasileiro afirma que sua vida ‘não é nada’ em comparação ao sofrimento das pessoas na Venezuela

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Foto do author Rodrigo Turrer
Por Rodrigo Turrer e Murilo Ferrari
Atualização:

O brasileiro Jonatan Moisés Diniz, de 31 anos, que ficou 11 dias preso na Venezuela, confirmou ontem ao Estado que viajou ao país com intenção de ser preso para promover as ações de sua ONG, Time to Change the Earth. “Só um burro acharia que eu não seria preso”, disse. Na entrevista, ele declarou que já esteve internado com problemas psiquiátricos. “Fui internado porque tenho uma mediunidade”, disse. “Uma prisão de 11 dias na Venezuela não é nada comparado às minhas internações.” A seguir, trechos da entrevista concedida ao Estado.

O brasileiro Jonatan Moisés Diniz, de 31 anos, que foi preso em Caracas acusado de conspirar contra o governo de Nicolás Maduro Foto: Reprodução / Jonatan Diniz / Facebook

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Por que você decidiu ir para a Venezuela para ser preso? Sendo bem sincero, quando vim pros EUA, não sabia se ia voltar para a América do Sul. Eu decidi que ia pra Venezuela, mesmo sabendo ser perigoso. Cruzei vários países, de ônibus, na base do mochilão. A primeira vez, me impactou muito as distorções. É uma realidade totalmente diferente do mundo. De todos os países, é o mais impactante. A gasolina é de graça, água, luz e telefone também. Eu me apaixonei por uma venezuelana e decidi ir para lá para ver a realidade do país. Eu vi uma aberração total. Para mim, os dois lados estavam errados. A esquerda briga com a direita e ninguém se entende. Pensei, enquanto eles brigam, eu vou fazer alguma coisa para melhorar a vida das pessoas. As crianças morrendo de fome não têm culpa de os adultos serem estúpidos. 

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Por que você quis ser preso? Primeiro, eu queria dizer que me prenderam mesmo. Eles me colocaram na cadeia e eu não sabia quando eu sairia. Eles me chamaram de terrorista da CIA e eu nem sabia do que era acusado. No tempo em que fiquei na prisão, não sabia o que estava acontecendo. Eu fui pra Venezuela sabendo da lei da ação e reação. Dizem que tive sorte de ficar só 11 dias na cadeia, mas não acho que tive sorte. Eu fui pra Venezuela com o meu dinheiro. Eu sabia que ia ser preso. Eu estava em um país com enorme repressão. Eu critiquei o governo e eles sabiam quem eu era. Espalhei 200 camisetas pela cidade com os dizeres: “Se você doar US$ 11, você pode ajudar 66 crianças que estão morrendo de fome na Venezuela”. Só um burro ia achar que eu não seria preso. Eu estava tentando ajudar, mas sabia do risco. Conhecendo a Venezuela, eu tinha certeza de que ia ser preso. Mas há um ensinamento que diz: “Use a força do inimigo contra ele mesmo”. A força do inimigo é prender as pessoas. A minha força é usar a força do inimigo para divulgar minhas ações. 

Por que você revelou seu plano? Eu só relatei porque tenho respeito pelas pessoas. O que eu quis fazer é mostrar que minha vida não vale nada em comparação às crianças que estão morrendo na Venezuela. Eu não quero me autopromover. Eu quero que as pessoas se ajudem, que ajudem umas às outras. É inacreditável ouvir que os brasileiros sabem o que se passa na Venezuela e ninguém fala nada. 

Você ficou chateado com a reação das pessoas quando souberam do seu plano de ser preso intencionalmente? Não. Eu entendo de psicologia humana. Sabia que isso aconteceria. As pessoas que estão me criticando são as mesmas que estão interessadas em política. Mas não sou Deus para criticar ninguém. Enquanto me xingam de playboy, de filhinho de mamãe, ninguém sabe o perrengue que eu passo para ajudar aos outros. Quem me chama de oportunista não sabe da minha vida. 

O que você achou das críticas do MBL, que te comparou a Maduro e te chamou de mentiroso? Eu não conhecia esse movimento. Falei com uma pessoa do MBL pelo WhatsApp. Ela me contou que o MBL fez um movimento para me ajudar. Devem ter trabalhado para me soltar e serei eternamente grato. Não à sigla MBL, mas às pessoas que trabalharam para me soltar, sem interesse de se promover ou de promover um movimento político. Podem criticar e me xingar. Eu nunca vou criticá-los. Sempre vou agradecer. Não ao movimento, mas às pessoas por trás dele.

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Você realmente teve problemas psiquiátricos? Sim. Foram seis internações. Quatro vezes em 2012 e duas em 2015. Fui internado porque tenho uma mediunidade. Eu estudo tudo o que é religião, cultura, filosofia. Eu sou médium. Recebo mensagens. Mas eu sempre disse que ser um médium famoso é fácil. Difícil é ser um médium desconhecido. Já me chamaram de bipolar, de esquizofrênico. A prisão de 11 dias na Venezuela não é nada comparado às minhas internações. Vocês não sabem o que é sofrer no hospital. Na cadeia pelo menos ninguém me segura e me injeta drogas à força. Nunca queira ir para um hospício, porque aquilo sim é um inferno.