Futuro governo de coalizão da Itália depende de aval do presidente

Sergio Mattarella tem autonomia para decidir para qual líder político dará a prioridade para a formação de novo gabinete; possibilidade mais concreta é o populista Luigi di Maio, líder do Movimento 5 Estrelas

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Por Andrei Netto , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

Em meio à divisão do Parlamento da Itália e a ascensão de forças populistas no país, caberá ao presidente Sergio Mattarella, um advogado constitucional de 76 anos, decidir quem terá a prioridade para tentar formar um governo de coalizão e assumir o cargo de primeiro-ministro. Dividido em três blocos, o novo Legislativo italiano não terá uma maioria clara e dois líderes partidários populistas, Luigi di Maio, do Movimento 5 Estrelas (M5S), e Matteo Salvini, da Liga, reivindicam o direito de governar. 

Presidente italiano, Sergio Mattarella (C), chega a centro de votação em Palermo, na Sicília Foto: Mike Palazzotto/ANSA via AP

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O novo período de incerteza política em Roma iniciou-se no domingo, com a eleição legislativa. Vencedor com 32% dos votos, o M5S teria, em tese, prioridade para tentar formar um gabinete. Mas Salvini encabeça a coalizão de centro-direita que obteve 37% dos votos e reivindica a prioridade, pois constituiu a maior bancada na Câmara dos Deputados e no Senado. 

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Segundo a Constituição italiana, o presidente tem o papel de árbitro e pode escolher qualquer um, mesmo um terceiro nome, até de fora da esfera político-partidária.

Nesta terça-feira, 6, o impasse político não evoluiu em Roma, e nada indica que uma resposta virá rapidamente. A nova legislatura só terá início no dia 23, e a perspectiva é que Mattarella adie ao máximo a decisão sobre quem terá a prioridade para tentar se tornar premiê. 

Depois da crise política na Alemanha, que ficou cinco meses sem governo estável após as eleições de setembro, até confirmar Angela Merkel como chanceler, a Itália deve passar por um período de transição de duração desconhecida. 

O exemplo mais próximo do caso italiano de 2018 é a própria Itália, que em 2013 passou por outro impasse político. Então candidato do Partido Democrático (PD, de centro-esquerda), Pier Luigi Bersani venceu as eleições com 29,55% dos votos, em uma corrida apertada contra o três vezes ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, então líder da Força Itália (de centro-direita), que teve 29,18% dos votos. 

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Adversários políticos incompatíveis, os dois partidos afastaram qualquer hipótese de coalizão. Após quase dois meses de impasse, ambos saíram derrotados. E coube a Enrico Letta, então um nome emergente do PD, substituir Bersani na liderança do partido e aliar-se com dissidentes da direita que criaram uma nova legenda para tirar o Parlamento do bloqueio.

A situação de 2018 é semelhante, embora as forças políticas tenham mudado. Apesar de a Liga já ter considerado uma aliança com o M5S no passado, o movimento de Di Maio sempre descartou um governo de coalizão. Em Roma a expectativa é que o líder populista, de 31 anos, receba de Mattarella um “mandado exploratório” para iniciar consultas para formar uma coalizão que permita a criação de um governo majoritário e estável. Para tanto, será necessário convencer o partido a mudar sua posição sobre alianças - e, em segundo lugar, encontrar um parceiro. 

“Para ilustrar sua recusa em entrar em qualquer aliança pós-eleitoral, o M5S antecipou a publicação da lista dos potenciais ministros, cuja indicação seria não-negociável caso o partido vencesse com maioria absoluta”, lembrou Davide Vittori, cientista político que estuda movimentos, partidos e organizações políticas na Universidade Luiss, de Roma.

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Uma possibilidade que até aqui parecia remota começa a se forjar nos bastidores políticos: a hipótese de que o PD aceite discutir a formação de um governo - tão logo o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, derrotado no domingo, abandone a direção da legenda. Neste caso, a reunião se daria entre Di Maio, considerado um político populista de perfil moderado e com tendências de centro-direita, com um partido de centro-esquerda. 

Esta hipótese, porém, é pouco provável e ocasiona tensões internas no PD, já que o ex-premiê Renzi garantiu, na segunda-feira, que seu partido migraria para a oposição após cinco anos de governo. Por ora, todas as alternativas não passam de conjecturas. A única certeza se dá em torno do papel decisivo de Mattarella, que poderia até, segundo seus assessores, optar por nomear um político neutro. Neste caso, o mais improvável até aqui, o atual primeiro-ministro da Itália, Paolo Gentiloni, poderia ser ser o escolhido.