PUBLICIDADE

Governo de May tenta minimizar efeitos de relatório sobre Brexit

Documento admite que não há final positivo para o Brexit e Reino Unido perderá economicamente em todos os cenários com divórcio do bloco

Atualização:

LONDRES - Um relatório oficial do governo britânico revelado nesta terça-feira, dia 30, pela imprensa mostra que a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) vai reduzir o crescimento econômico do país, qualquer que seja o resultado da negociação entre Londres e Bruxelas. O vazamento do relatório aumentou a pressão de parlamentares que acusam o governo de falta de transparência e querem propor um novo referendo sobre o Brexit.

PUBLICIDADE

Elaborado em janeiro, o estudo publicado pelo site Buzzfeed News examina três cenários possíveis. No primeiro, se o Reino Unido permanecer no mercado único europeu, possibilidade já descartada pela primeira-ministra britânica, Theresa May, o país deixaria de crescer 2% nos próximos 15 anos. 

+ Retórica dura da UE sobre Brexit ameaça futuro político de May

No caso de obter um acordo de livre comércio com o bloco europeu, a economia britânica deixaria de crescer 5%. Por fim, na pior das hipóteses, se abandonar a UE sem um acordo e iniciar uma relação comercial segundo as regras que valem para qualquer país de fora da União Europeia, o Reino Unido deixaria de crescer 8%.

A primeira-ministra britânica, Theresa May Foto: EFE/ Facundo Arrizabalaga

O relatório afirma que todas as regiões do país sofreriam impacto econômico negativo, independentemente do cenário resultante. Os setores químico, de roupas, manufatura, comida e bebida, automobilístico e varejista sentiriam as maiores perdas. O relatório calcula que os acordos com países de fora da UE permitiriam agregar 0,4% ao crescimento britânico.

O vazamento aconteceu horas antes do início da análise do projeto de lei de saída da UE pela Câmara dos Lordes, texto que foi aprovado pela Câmara dos Comuns no dia 17. Os lordes formam a Câmara Alta do Parlamento do Reino Unido, uma mistura bastante heterogênea de políticos indicados, bispos e membros da nobreza – onde o Brexit encontra mais resistência.

+ União Europeia deixa porta aberta para Reino Unido recuar do Brexit

Publicidade

Parlamentares e ativistas contrários ao Brexit exigiram que o relatório fosse divulgado publicamente. “É impressionante que o governo se recuse a publicar qualquer análise séria sobre o Brexit, porque suas próprias avaliações de impacto destacam o óbvio, que o plano imprudente de abandonar o mercado único e a união alfandegária nos deixará muito pior”, afirmou Chris Leslie, deputada trabalhista, ao jornal The Guardian. 

O deputado conservador Iain Duncan Smith, defensor do Brexit, sugeriu que os britânicos “ignorem” as previsões. “É preciso consumir isso com uma pitada de sal, porque quase todas as outras previsões sobre o Brexit se mostraram erradas até agora”, disse Smith à Rádio 4 da BBC.

Jacob Rees-Mogg, chefe do Grupo de Investigação Europeia, composto por uma série de deputados conservadores, afirmou que o exercício de previsões econômicas é “altamente especulativo”. “O Tesouro também produziu análises semelhantes sobre a perda de postos de trabalho em massa, e errou totalmente.”

O governo britânico tentou minimizar ontem as críticas que surgiram após a imprensa divulgar o relatório oficial. O porta-voz de May afirmou que documento era uma “versão inicial e provisória” de um texto com “um número importante de ressalvas”, que seria necessário mais tempo para sua aprovação.

Um dos secretários encarregados do Brexit, Steve Baker, também destacou que a reportagem do Buzzfeed News era “uma interpretação seletiva de uma análise preliminar”. Baker, que é vice do ministro do Brexit, David Davis, disse que o vazamento teve o objetivo de prejudicar as negociações sobre a saída do país da União Europeia.

A revelação surge em um momento de elevadas tensões dentro do governo de May, com deputados do Partido Conservador, a favor e contra o Brexit, exigindo que ela esclareça sua visão de saída e o que pretende alcançar com as negociações com Bruxelas. / AFP e AP

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.