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Governo impõe toque de recolher em Bangcoc

Medida foi anunciada após rendição de líderes oposicionistas; confrontos mataram cinco.

Por Marina Wentzel
Atualização:

Autoridades da Tailândia impuseram nesta quarta-feira um toque de recolher noturno na capital, Bangcoc, após uma ofensiva do Exército ter retirado os manifestantes de oposição de um acampamento no centro da cidade, onde se encontravam há meses. Pelo menos cinco pessoas morreram e dezenove ficaram feridas na ofensiva do Exército tailandês, elevando para 65 o número de mortos desde março. Alguns dos principais líderes dos opositores, chamados de camisas vermelhas, se entregaram às autoridades por volta das 13h45 de Bangcoc (3h45 de Brasília), alegando querer evitar mais mortes. O toque de recolher, o primeiro imposto na cidade em 15 anos, deve vigorar entre 20h e 6h no horário local (10h e 19h, no horário de Brasília). O governo também proibiu as emissoras de televisão de transmitir qualquer programa que não tenha sido sancionado oficialmente. Forças de segurança disseram que vão garantir que todos os moradores da cidade, incluindo os estrangeiros, estejam protegidos durante a noite. As autoridades também impuseram toques de recolher em pelo menos 21 das 75 províncias do país. Incêndios Após a remoção dos rebeldes do acampamento, foram iniciados incêndios em diversos prédios da cidade, incluindo a bolsa de valores, bancos, shopping centers e uma emissora de televisão. No nordeste do país, manifestantes rebeldes invadiram os prédios do governo local em resposta à ofensiva em Bangcoc. Pela manhã, tanques removeram barricadas de bambu e pneus da área central do acampamento, dispersando centenas de rebeldes que se recusavam a deixar a área. Os camisas vermelhas atearam fogo no andar térreo de uma estação de TV. Na mesma avenida, queimaram pneus, gerando uma coluna de fumaça negra. Eles também jogaram bombas incendiárias nos shoppings de luxo Central World e Siam Paragon. O World Plaza, um dos maiores shoppings do sudeste asiático, também foi consumido pelas chamas. Operação A operação que resultou nas mortes começou na madrugada desta quarta-feira no horário local e, no final da manhã o governo já havia conseguido assumir o controle sobre a parte central do acampamento dos rebeldes. A ação teve início um dia e meio após o vencimento do prazo para a saída voluntária dos manifestantes. Até o início da tarde, a ofensiva só não havia sido mais sangrenta que os confrontos do dia 10 de abril, que resultaram em 25 mortos. Na ocasião, o governo tentou pela primeira vez remover os manifestantes, sem sucesso. Os rebeldes, fiéis ao ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, deposto em 2006, estavam acampados no principal distrito comercial de Bangcoc há cerca de dois meses, para pressionar o governo a dissolver o Parlamento e convocar eleições diretas imediatamente. Eles acreditam que o atual primeiro-ministro, Abhisit Vejjajiva, não é legítimo, pois chegou ao poder através de um voto parlamentar e não pela escolha popular. Centro A área invadida pelo Exército fica bem no centro moderno de Bangcoc e é uma região nobre, com diversos shopping centers de luxo, bancos, prédios de escritórios e condomínios residenciais de alto padrão. Há cerca de seis dias o governo cortou o acesso a água, energia elétrica e comunicações para isolar essa região e forçar os manifestantes a se render. O isolamento resultou em confrontos na periferia do acampamento, que deixaram mais de 40 mortos. Milhares de moradores afetados pelas medidas tiveram de deixar suas casas e ir morar com familiares ou conhecidos em outras partes da cidade. A expectativa de um confronto era latente desde a última sexta-feira, quando o prazo de retirada voluntária foi estabelecido. O sistema de transporte público está suspenso, bancos e órgãos do governo estão fechados. As escolas seguem em recesso até a próxima semana e é feriado público até sexta-feira. Os moradores da capital estão refugiados em suas casas aguardando o desfecho dos confrontos. Pelo menos três rodadas de negociações anteriores falharam, e o governo alega agora que só voltará à mesa de negociações depois que os rebeldes abandonarem a capital. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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