GENEBRA - Ameaçada pela fome, a população da cidade síria de Madaya - com uma população de 30 mil pessoas - vai começar a ser abastecida pela ONU. Nesta quinta-feira, 7, a entidade anunciou que o governo sírio autorizou que o local fosse acessado pelas equipes humanitárias. A cidade está sitiada desde meados de 2015 e, segundo os relatos das Nações Unidas, a população nesse período tem comido terra, gatos e cachorros. Muitos, porém, já morrem de fome.
O bloqueio da cidade, um dos bastiões da oposição ao governo de Bashar Assad, estava sendo realizado por tropas aliadas ao presidente. As cidades de Fua e Kefraya também vivem situações similares. Localizada a 25 quilômetros de Damasco e 11 quilômetros da fronteira com o Líbano, Madaya passou a ser também sitiado pelas forças xiitas do Hezbollah, aliadas de Assad. O bloqueio estaria ocorrendo como represália em razão da perda de duas outras cidades para grupos opositores.
Com a autorização, a ONU anunciou que está "preparando a entrega de assistência humanitária para os próximos dias". Segundo a entidade, porém, ainda não está claro qual será o volume de ajuda autorizado a entrar na cidade. O bloquei também fez o preço de alimentos disparar e, hoje, um quilo de arroz custa US$ 250, enquanto que 900 gramas de leite em pó vale US$ 300. Há relatos de um homem que vendeu seu carro em troca de 10 quilos de arroz.
Na terça-feira, um homem de 53 anos morreu de fome e o restante de sua família, de cinco pessoas, sofre de má nutrição profunda. Segundo a ONG Save the Children, se nada for feito com urgência, "crianças vão morrer".
Para o porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Pawel Krzysiek, "a situação (em Madaya) é dramática". A última vez que um comboio entrou na cidade foi em outubro. Hoje, segundo a ONU, não há leite, remédios ou comida. "As pessoas estão literalmente morrendo de fome", apontou um documento da entidade, em Genebra. Na avaliação da ONU, a situação é de "catástrofe humanitária".
O que preocupa a organização, porém, é que o acesso pode ser apenas temporário. Em seus relatórios, o Comitê de Inquérito sobre os Crimes na Síria, liderado pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, já alerta há pelo menos três anos que os bloqueios de cidades inteiras tem levado a situações dramáticas para a população.
Entre os ativistas, o tom também é de hesitação. Muitos apontam que o sinal verde de Assad só veio depois que imagens de crianças subnutridas passaram a ser veiculadas na Europa. Segundo a própria ONU, 4,5 milhões de pessoas na Síria precisam de alimentos e um total de 15 cidades estão sitiadas, com 400 mil pessoas sem acesso a comida.