Greve geral contra reformas propostas por Macron leva 350 mil às ruas

Presidente quer adotar polêmicas reformas nos serviços públicos, como acabar com 120 mil postos de trabalho

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Atualização:

PARIS - Mais de 350 mil manifestantes tomaram as ruas de toda a França nesta quinta-feira (22), em um confronto entre os sindicatos e o presidente Emmanuel Macron que pode ser decisivo para sua agenda reformista. 

Sete sindicatos lideraram o protesto contra o projeto de Macron de reformar a companhia pública ferroviária SNCF. 

Segundo o Ministério do Interior, 350 mil pessoas  se manifestaram em todo o país, 49 mil delas em Paris. O sindicato CGT, o maior do setor público, estimou a participação total em mais de 500 mil. 

Manifestantes entraram em choque com a polícia em várias cidades francesas, entre elas Nantes Foto: AFP / JEAN-SEBASTIEN EVRARD

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De acordo com dados da SNCF, que transporta diariamente 3,5 milhões de passageiros, 40% dos trens de alta velocidade e 25% dos de médio alcance circularam nesta quinta na França, onde também foram registrados distúrbios nos setores aéreo e de ensino, nos serviços de segurança, bibliotecas e outros serviços públicos, como coleta de lixo. 

Comemorando a "forte mobilização", a CGT convocou uma nova jornada de ação em 19 de abril.

A polícia usou gases lacrimogêneos e jatos d'água no centro de Paris, em confrontos com grupos de estudantes. 

Pelo menos uma janela de um escritório ficou quebrada e um automóvel foi incendiado. 

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'Destruir os serviços públicos'.  Mas, enquanto em algumas regiões o transporte se tornou um pesadelo, especialmente para os trabalhadores procedentes dos subúrbios, o impacto das greves foi baixo, em relação aos padrões históricos da França. 

Baptiste Colin, estudante de engenharia de 22 anos que protestava na capital, acusou o governo de querer "destruir os serviços públicos".

Marine Bruneau, funcionária do município, concorda: "Parece que acham que na França (...) o setor privado pode fazer tudo, e não precisam de funcionários como eu. Mas a França precisa de nós. Se não estivermos aqui, o país não vai bem".

Milhares de pessoas participaram dos protestos organizados nesta quinta-feira em grandes cidades como Marselha e Lyon. As cifras a nível nacional foram similares às dos protestos de outubro contra as reformas trabalhistas impostas por Macron no ano passado.

Entretanto, foram menores que as gigantescas manifestações dos últimos 25 anos, como em 1995, 2003 e 2010, quando mais de um milhão de pessoas saíram às ruas.

Desta vez, a data de 22 de março foi escolhida deliberadamente para coincidir com os protestos de 1968, que desencadearam as históricas mobilizações de maio daquele ano. 

Macron, de 40 anos, eleito em maio, tinha prometido amplas reformas.

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"A França não é um país reformável. Muitos tentaram e não conseguiram, já que os franceses odeiam reformas", disse em agosto, afirmando que o que busca é "transformar" o país "profundamente, para que encontre o destino que lhe cabe". 

Ele empreendeu uma série de reformas trabalhistas que inclui um plano de supressão de 120 mil postos no serviço público, a fim de reduzir o gasto estatal. 

Os ferroviários protestam contra um projeto de reforma da companhia nacional SNFC que inclui o fim de seu estatuto trabalhista, vantajoso em relação ao regime geral dos trabalhadores, sobretudo em relação à aposentadoria. 

A reforma ferroviária - um "passo" em direção à privatização da SNCF, segundo alguns - ainda se dá por decreto, mecanismo mais rápido, que reduz os debates parlamentares e desperta fortes críticas. / AFP

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