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‘Guerra Fria’ com a Rússia leva Leste Europeu à corrida armamentista

Depois de guerra na Ucrânia, despesas militares dispararam em média 13% em países como Polônia, Letônia e Lituânia

Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

O conflito armado na Ucrânia, país que perdeu a Península da Crimeia para a Rússia e tem outra parte de seu território, Donbass, sitiado por um conflito armado com rebeldes separatistas, lançou o Leste Europeu em uma corrida armamentista. 

Temerosos do poderio militar do Exército de Vladimir Putin, Polônia, Letônia e Lituânia multiplicaram seus orçamentos de defensa, com altas que chegaram a 33% em 2015, segundo estudo do Instituto Internacional de Pesquisa sobre a Paz (Sipri), de Estocolmo. Em todo o mundo, o ano marcou uma virada, com gastos que voltaram a subir, chegando a quase US$ 1,7 trilhão.

Tropas sérvias desfilam em Belgrado durante evento comemorativo Foto: REUTERS/Marko Djurica

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O aumento das despesas militares no Leste Europeu puxou para cima a média de todo o continente, onde os gastos com armas, equipamentos militares, pessoal e pesquisa e desenvolvimento de novos artefatos e estratégias subiram 1,7% em 2015. 

Parte desse valor se deve a medidas adotadas na França, que congelou a redução de efetivos, e o decréscimo do orçamento do setor em razão dos atentados terroristas, que exigiram reforço na segurança interna e mais força bruta contra o grupo Estado Islâmico. Mas, de modo geral, os gastos continuam a cair na Europa Ocidental.

Em contrapartida, o ano de 2015 marcou a explosão dos investimentos no leste. Pressionados pelo que consideram a “ameaça russa”, os países de fronteira abriram os cofres em nome da prevenção. Na Polônia, os gastos militares subiram 22%; na Letônia, 14%; e na Lituânia, 33%. 

Todos os países pertenciam ao antigo bloco liderado pela União Soviética, mas desde o fim do bloco comunista a tensão não era tão grande na região. Nessa área europeia, a elevação média é de 13%. “Aumentos particularmente importantes ocorreram em países limítrofes da Rússia – Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, Romênia e Eslováquia –, preocupados pelas intenções da Rússia após a crise na Ucrânia”, diz o relatório dos especialistas suecos.

Não é apenas o estudo do Sipri que indica essa tendência. Uma pesquisa coordenada pelo Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (Iris), de Paris, indicou que a tendência persiste neste ano e se generaliza no continente.

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Mais uma vez a tendência será puxada pelos países bálticos e pela Europa central e do leste. A Polônia, por exemplo, deve registrar novo aumento de 9,4% neste ano, sempre em busca de um arsenal mais moderno, capaz de resistir a operações como as realizadas na Crimeia e em Donbass. 

A mobilização de recursos é uma clara resposta à uma tendência verificada do outro lado da fronteira da “nova guerra fria” – termo usado pelo primeiro-ministro da Rússia, Dimitri Medvedev, para definir a atual ordem internacional. Nos últimos dez anos, o orçamento militar do Kremlin cresceu 91%. O resultado foi verificado no campo de batalhas, com o sucesso das ações políticas e militares da Rússia na Geórgia, na Crimeia, na fronteira com a Ucrânia e, agora, também na Síria.

Mesmo na Europa Ocidental, a tendência agora é de elevação dos investimentos. A Alemanha, por exemplo, deve ultrapassar em 2016 a França em gastos militares, com US$ 38,4 bilhões em investimentos, manutenção e pessoal, contra US$ 35,9 bilhões de Paris. Em toda a União Europeia, apenas Itália, Suécia, Grécia e Luxemburgo não elevarão seus gastos com defesa. 

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“O aumento dos gastos corresponde a um ambiente marcado por rivalidades de potências que foram renovadas e pela diversificação das ameaças”, explica Corentin Brustlein, membro do Instituto Francês de Relações Internacionais (IFRI). “Na Europa, o movimento de redução do esforço de defesa foi interrompido, mas os países divergem na apreciação sobre a ameaça. Os países nórdicos e a Europa Oriental estão antes de mais nada preocupados com a Rússia.” 

Análise similar é feita pelos especialistas do Sipri: “Grã-Bretanha, França e Alemanha anunciaram planos para um aumento modesto das despesas nos próximos anos, suscitados pelas preocupações com relação à Rússia e à ameaça que o Estado Islâmico constitui”. Mas há uma outra razão para a mobilização europeia: o acordo firmado entre países-membros da Otan, que se comprometeram a investir 2% de seu PIB em despesas militares até 2024. 

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