Há 70 anos, prisioneiros eram libertados do Campo de Auschwitz

Na data escolhida pela ONU para celebrar o Dia Internacional do Holocausto, sobreviventes lembram os dias no campo de extermínio

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Por Fernanda Simas
Atualização:
Sobreviventes do Campo de Extermínio de Auschwitz passam pelo portão do local, onde está a frase 'o trabalho liberta' Foto: Odd Andersen/AFP

Há 70 anos, o Exército Vermelho soviético libertava os prisioneiros do Campo de Extermínio de Auschwitz, na Polônia, onde mais de um milhão de pessoas, a maioria judia, foram mortas entre 1940 e 1945 pelo regime nazista. A data foi escolhida pelas Nações Unidas para comemorar o Dia Internacional do Holocausto.

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"Eu contava os dias, imaginava que seria libertado e assim passava o tempo, sofrendo com fome, sofrendo torturas, sofrendo toda espécie de discriminação. Na nossa cidade, Lodz, viviam antes da guerra 260 mil judeus e só 4 mil sobreviveram", lembra o polonês Henry Nekrycz, presidente da Associação de Sobreviventes do Nazismo no Brasil.

Ele tinha 14 anos quando a 2.ª Guerra começou e quatro anos depois foi enviado a Auschwitz, onde ficou por quase três semanas antes de ser "comprado" para trabalhar em uma fábrica alemã. As três semanas em que ficou lá foram suficientes para deixá-lo doente, com tuberculose e disenteria, depois de tê-lo feito presenciar a morte da família.

"Tenho duas memórias marcantes. Uma quando meu pai morreu de fome no gueto, em 1942. E a segunda, quando cheguei a Auschwitz e fui separado da minha mãe. Depois, outra prisioneira me contou que ela havia sido enviada pelo Mengele para a câmara de gás", conta Nekrycz, se referindo ao gueto da cidade onde nasceu, Lodz, e ao médico alemão Josef Mengele, que comandava experiências com os prisioneiros em Auschwitz.

Nesta terça-feira, 27, diversos eventos ocorrem para lembrar as vítimas do nazismo, uma maneira, segundo sobreviventes do Holocausto, de mostrar como era a realidade em campos de extermínio e evitar que isso ocorra novamente.

Para o presidente da Confederação Israelita do Braisl (Conib), Fernando Lottenberg, a data é também uma maneira de evitar atitudes discriminatórias. "É um sinal de alerta. Não foi algo que aconteceu lá e a partir de então nada semelhante ocorreu. Claro que, felizmente, na proporção que aconteceu, não teve nada semelhante, mas a gente procura nessa data lembrar episódios de intolerância e discriminação, de atos antissemitas ao redor do mundo, para lembrar que a semente daquilo ainda existe."

A cerimônia oficial do 70.º aniversário da libertação do Campo de Auschwitz ocorre na Polônia e terá a presença de representantes de mais de 40 países e cerca de 300 sobreviventes. Os presidentes François Hollande (França), Joachim Gauck (Alemanha), Petro Poroshenko (Ucrânia) e Bronislaw komorowski (Polônia) estarão presentes.

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No Brasil, a ONU e a Conib farão uma cerimônia no Rio de Janeiro com a presença de diplomatas franceses, que também lembrarão os mortos em atentados terroristas na França no início do mês, além de sobreviventes do Holocausto.

Rotina. O dia a dia em Auschwitz é descrito por sobreviventes como "infernal". "Ficávamos em barracões, cerca de 1500 pessoas em cada um. Dormíamos no cimento, amontoados como sardinhas. De manhã, havia uma contagem dos prisioneiros. Recebíamos um pedaço de pão e, na hora do almoço, uma sopa", explica Nekrycz.

O polonês deixou o campo de extermínio aos 18 anos, pesando 28 quilos, após ser "comprado" para trabalhar em uma fábrica de caminhões pesados alemã, onde ficou até a primavera de 1945.

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