A posição receptiva da chanceler Angela Merkel em relação aos migrantes também interferiu internamente na Alemanha. O número crescente de pessoas descontentes com a crise de refugiados levou à queda da popularidade da líder alemã, além de abrir espaço para opositores políticos. Para o professor de Ciência Política da Universidade de Frankfurt Jens Borchert, a própria Merkel é responsável por esse cenário confuso.
Ela está sendo criticada tanto por cidadãos que desejam que a entrada de refugiados seja livre, quanto pelos que a julgam liberal demais. “Muitos alemães não querem uma quantidade ilimitada de refugiados por medos irracionais de influências culturais estrangeiras muito fortes ou temores racionais de que o Estado alemão será sobrecarregado”, explica Borchert.
O professor de Ciência Política da Universidade Tecnológica de Dresden Werner J. Patzelt acredita que a população se incomoda com as pessoas que rumam para o país sem estar em perigo iminente. “Os alemães querem ajudar quem foge da guerra e perseguição política, mas não quem vem sem estar em perigo, apenas para se aproveitar do bem-estar do país sem contribuir para isso”, declara.
A crise de refugiados na Alemanha teve implicações políticas internas, o que teria contribuído para o mau momento da chanceler. “Parcela do partido dela sempre apoiou uma política muito restritiva em relação a imigração e asilo político”, comenta Borchert.
O partido mais beneficiado com essa crise foi o Alternativa para a Alemanha (AfD). A agremiação, que tem cerca de 10% das intenções de votos, é formada principalmente de antigos membros do partido de Merkel. No entanto, o professor de História Contemporânea da Universidade Livre de Berlim, Paul Nolte, acredita que a AfD não conseguirá apoio expressivo.