Imprensa dos EUA denuncia conivência do Exército com pedofilia no Afeganistão

Reportagens do jornal 'The New York Times' e da emissora Fox afirmam que havia uma ordem das Forças Armadas para ignorar abusos realizados por combatentes aliados dos americanos no país

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Atualização:

WASHINGTON - Reportagens do jornal "The New York Times" e da emissora "Fox" denunciaram na segunda-feira, 21, uma suposta conivência das Forças Armadas dos Estados Unidos com abusos sexuais a menores de idade praticados por seus aliados no Afeganistão.

Segundo a "Fox", o exército decidiu expulsar um veterano do corpo especial dos Boinas Verdes por sua atuação em 2011, quando o militar estava no Afeganistão e empurrou um policial afegão acusado de abusar de um menor e de agredir a mãe do jovem quando ela denunciou o ocorrido.

George Buckley, pai de soldado americano que serviu no Afeganistão, relatou aoNYTcasos de abusos de menores presenciados pelo filho, morto em combate Foto: Kirsten Luce/The New York Times

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De acordo com o canal americano, o Boina Verde Charles Martland soube das ações do policial, que foi treinado e armado pelos EUA para lutar contra o Taleban, e por isso foi a seu encontro para confrontá-lo, chegando a empurrá-lo. 

Martland, um militar condecorado em várias ocasiões por suas ações na frente de batalha, foi punido pelo Exército americano pouco depois desse episódio, mas só agora, quatro anos depois, foi decidida sua expulsão das Forças Armadas.

O mesmo assunto também foi abordado pelo "New York Times", que dedicou um duro editorial sobre o assunto, após a publicação de um artigo horas antes, em que o jornal denunciou um caso similar.

"Os incidentes de assédio sexual contra crianças descritos por militares americanos que serviram no Afeganistão são repugnantes. Crianças gritando durante noite ao serem atacadas por policiais afegãos. Três ou quatro homens afegãos surpreendidos em uma base militar com crianças entre eles, presumivelmente para jogos sexuais", relatou a publicação.

O "New York Times" acrescentou que é "igualmente ofensivo" que os soldados dos EUA que quisessem intervir "não pudessem" porque superiores tinham ordenado que "ignorassem comportamentos abusivos por parte de seus aliados afegãos e olhassem para o outro lado porque é sua cultura".

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Em uma reportagem publicada no domingo, o "New York Times" contou a história de Gregory Buckley, um soldado que morreu em um ataque no Afeganistão em 2012. Antes de morrer, Buckley denunciou em um telefonema para seu pai que podia ouvir como os policiais afegãos abusavam sexualmente de crianças que eram levadas à sua base.

"Durante a noite podíamos ouvi-los gritar, mas não era permitido que fizéssemos algo a respeito", disse Buckley a seu pai, conforme este relatou à publicação nova-iorquina. 

Reação. As revelações do "The New York Times" e da "Fox" causaram polêmica nos EUA. A própria Casa Branca declarou que está "muito preocupada" com a segurança das crianças afegãs.

O comandante da Otan e das forças dos EUA no Afeganistão, general John Campbell, afirmou nesta terça-feira que não existe uma política para ignorar abusos sexuais a menores de idade praticados pelos aliados afegãos.

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"Estou absolutamente convencido de que não existiu nunca uma política assim (de ignorar os abusos sexuais) e definitivamente não existiu durante meu mandato como comandante", expressou Campbell em comunicado.

O general indicou que "espera que qualquer suspeita de abuso sexual seja reportada imediatamente, sem levar em conta que perpetra o crime ou quem são as vítimas", e caso afegãos estejam envolvidos, pedirá ao governo do país que tome medidas.

"Falei pessoalmente com o presidente (Ashraf) Gani sobre esta questão e ele deixou claro que o governo afegão não tolerará o abuso de crianças nem de ninguém, que investigarão todas as denúncias e a justiça será feita", explicou Campbell. / EFE

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