Inflação na Venezuela fechará o ano acima de 2000%, diz oposição

Economista ligado à MUD diz que chavismo está inundando a economia com dinheiro inorgânico emitido para cobrir o déficit fiscal

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CARACAS - O deputado José Guerra, presidente da Comissão de Finanças da Assembleia Nacional da Venezuela, disse na terça-feira, dia 28, que a inflação deste ano fechará acima de 2.000%, segundo estimativas do Legislativo, único poder controlado pela oposição. O descontrole dos preços tende a agravar a crise humana que vem causando a fuga em massa de venezuelanos do país. 

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“Hoje podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que, com este aumento de liquidez criado pelo Banco Central (BCV), a inflação em 2017 vai superar facilmente os 2.000%”, disse Guerra. A previsão é um pouco mais otimista do que a divulgada pela consultoria Econométrica no início de novembro.

Presidente venezuelano, Nicolás Maduro Foto: EFE/EPA/MIRAFLORES PALACE PRESS OFFICE

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De acordo com a empresa, a Venezuela registrou em outubro uma inflação de 50,6% em relação ao mês anterior, entrando tecnicamente em hiperinflação, ao superar, pela primeira vez na história do país, uma alta de preços acima de 50% em um único mês. “Com a inflação geral de outubro de 2017, de 50,6% em relação a setembro, a Venezuela entra na definição técnica de hiperinflação proposta por Philip Cagan”, escreveu a Econométrica no Twitter, citando o economista americano que criou o conceito em 1956.

CENÁRIO RUIM. O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou na na terça-feira, dia 28, seu relatório Perspectivas Econômicas Globais. No texto, especialistas estimam que a economia da Venezuela sofrerá uma contração de 12% e o país terá uma inflação de 2.349,3% em 2018. “O agravamento da crise política na Venezuela constitui um peso para a atividade econômica, que, segundo as previsões, se contrairá mais de 10% em 2017, à medida que diminua a produção de petróleo e se intensifique a incerteza”, afirma o FMI. 

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A queda no preço do petróleo diminuiu a capacidade de investimentos do governo e comprometeu o orçamento. Pelo menos 96% das receitas da Venezuela vêm da extração petrolífera. Sem moeda forte, as importações de produtos básicos ficaram prejudicadas, aumentando a falta de comida e remédios. O salário mínimo no país é de 177 mil bolívares, o equivalente a US$ 53 na taxa oficial de câmbio. Mas, no mercado paralelo, onde a moeda local é muito mais desvalorizada, o montante equivale a apenas US$ 4.

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Guerra afirmou que a projeção “confirma o caminho hiperinflacionário no qual a economia venezuelana se encontra” desde outubro, segundo dados da Assembleia Nacional, que assumiu a tarefa diante do silêncio do BCV. 

Ele reiterou que o Banco Central “está inundando a economia com dinheiro inorgânico emitido para cobrir o déficit fiscal” e garantiu que, em novembro, o BCV aumentou a base monetária em 1.560%, em comparação com o mesmo período de 2016.

Guerra explicou que a medida teve como consequência a desvalorização ainda maior do bolívar e o aumento da inflação “A Venezuela está sofrendo uma intoxicação monetária”, acrescentou Guerra, após denunciar que, apesar do aumento da liquidez, persiste a escassez de moeda no país.

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MILITARES. O general Antonio Rivero confirmou ontem que os militares venezuelanos foram proibidos de circular durante à noite pelas cidades. A medida foi tomada em razão do alto índice de criminalidade nas áreas urbanas. As ordens determinam ainda que eles evitem falar ao telefone dentro de carros e não revelem a identidade em caso de assalto. Estão proibidos também passeios em centros comerciais à noite e presença em “locais de reputação duvidosa”, segundo o texto. 

 “Para garantir o bem-estar dos militares, os comandantes devem conscientizar o pessoal sobre as normas de segurança e proteção pessoal, a fim de evitar que sejam vítimas de agressões ou de delitos que possam afetar sua integridade”, diz o texto. Somente este ano, 282 agentes de segurança, incluindo soldados e policiais, foram mortos por crime comum na Venezuela, segundo a Fundación para el Debido Proceso (Fundepro), que monitora a violência no país. / REUTERS, AFP e AP

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