Injeção de recursos dos EUA já supera Plano Marshall

Desde o início da guerra, em 2002, tentativas de estabilizar o Afeganistão já consumiram cerca de US$ 109 bilhões

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Por WASHINGTON
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Nos 13 anos desde a invasão do Afeganistão, em 2001, os Estados Unidos gastaram no país mais do que destinaram à reconstrução da Europa depois do fim da 2.ª Guerra com o Plano Marshall. Mais da metade dos recursos foi usada na criação e armamento das forças de segurança, que desde o ano passado são responsáveis pelo comando das operações de combate no território afegão.O restante foi canalizado a diferentes programas de ajuda, que incluíram a criação de um arcabouço institucional nos moldes ocidentais, construção de escolas e hospitais e realização de obras de infraestrutura. Apesar da enorme injeção de recursos, o Afeganistão tem o mais elevado índice de mortalidade infantil do mundo e um dos maiores de mortalidade materna. Trinta e seis por cento da população vive abaixo da linha da pobreza e apenas 30% do país está conectado a fontes permanentes de eletricidade.Outro ranking explica, em parte, os números: segundo a Transparência Internacional, o Afeganistão é o terceiro país mais corrupto do mundo, atrás de Somália e Coreia do Norte.No período de 2002 a junho de 2014, os Estados Unidos gastaram US$ 104 bilhões no esforço de reconstrução e ajuda ao Afeganistão, mostram as estatísticas da entidade governamental responsável por supervisionar os recursos, conhecida pela sigla Sigar. Atualizada, a cifra chega a US$ 109 bilhões.Em relatório enviado ao Congresso americano no mês de julho, a instituição estimou que a quantia supera o que os EUA destinaram ao Plano Marshall. Em valores corrigidos pela inflação, o esforço de reconstrução de 16 países europeus no período de 1948 a 1952 custou aos americanos US$ 103,4 bilhões.A diferença é que os gastos no Afeganistão contemplaram não apenas a reconstrução do país, mas também a criação de Exército, Força Aérea e polícia com um contingente total de 340 mil pessoas, esforço que consumiu US$ 62 bilhões dos US$ 104 bilhões. Mas os restantes US$ 42 bilhões representam quase o dobro do que os EUA gastaram na reconstrução da Grã-Bretanha no pós-guerra: US$ 24,7 bilhões em valores atualizados, de acordo com cálculos da Sigar.Os principais avanços na área social ocorreram na educação, com a matrícula em escolas de milhões de crianças, especialmente meninas. Durante os seis anos do governo do Taleban, mulheres foram proibidas de estudar e só podiam trabalhar em situações especiais. Apesar de o Afeganistão continuar a ter o maior índice de mortalidade infantil do mundo, o indicador melhorou nos últimos 13 anos, quando também houve aumento da expectativa de vida da população.A mobilização de recursos também não criou uma economia local capaz de prover receita suficiente para a manutenção do Estado afegão. De acordo com a Sigar, a receita tributária do país em 2013 foi de US$ 2 bilhões, para gastos orçados em US$ 5,4 bilhões. A diferença foi coberta pela ajuda internacional, que tem acompanhado o movimento de retirada de tropas do país e está em retração.Estimativa do Banco Mundial citada no relatório indica que as receitas do governo afegão permanecerão aquém das despesas pelo menos até 2025, em um valor equivalente a 20% do PIB do país, que soma US$ 21 bilhões - o PIB brasileiro é de US$ 2,25 trilhões. / C.T.

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