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Itália enfrenta incerteza política após avanço eleitoral de partido antissistema

Com 98% das urnas apuradas, coalizão de extrema direita tem 37% dos votos, seguida pelo Movimento 5 Estrelas, com eleitores de esquerda e de direita, com 32%; país corre risco de ficar ingovernável se as duas forças, muito diferentes, não chegarem a consenso

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Por Redação
Atualização:

ROMA - O avanço histórico das forças antissistema, eurocética e de extrema-direita, que conquistaram a maioria de votos e assentos nas eleições legislativas de domingo, mergulhou a Itália na incerteza política.

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O Movimento 5 Estrelas (m5E), com eleitores de esquerda e de direita, e os partidos de extrema-direita se beneficiaram de uma rejeição da velha classe política, do descontentamento com uma economia que não decola e das tensões em relação aos imigrantes.

Jornalista acompanha apuração da votação na Itália na sala de imprensa do Movimento 5 Estrelas Foto: AFP PHOTO / Andreas SOLARO

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A Itália votou em sintonia com os britânicos que optaram pelo Brexit, os americanos que deram a vitória a Donald Trump e outros países da Europa, onde a extrema direita vive um novo impulso.

O líder de extrema direita Matteo Salvini, do partido Liga do Norte, reivindicou nesta segunda-feira, 5, "o direito e o dever" de sua coalizão conservadora de governar a Itália após somar 37% dos votos. "É uma vitória extraordinária", comentou Salvini, durante entrevista na sede do partido.

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Salvini superou seu aliado dentro da coalizão, Silvio Berlusconi, e, por esta razão, exigiu ocupar a chefia do governo, acrescentando que não está disposto a se aliar ao M5E, o partido individual mais votado do país, com 32% dos votos.

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"Pela primeira vez na Europa, as forças antissistema venceram", resumiu o editorial do jornal "La Stampa".

Contudo, a coalizão liderada durante a campanha pelo magnata e três vezes primeiro-ministro Silvio Berlusconi e seu partido Forza Italia, aliada aos xenófobos da Liga do Norte e aos neofascistas Irmãos da Itália, com seus 37% dos votos, não teria condições de governar.

A formação antissistema do M5E, que se apresentou sozinha, deve ser confirmada como o maior partido na Itália, com cerca de 32% dos votos, de acordo com projeções que mostram uma ascensão espetacular do movimento criado em 2009.

Luigi Di Maio já se pronunciou, reivindicando o direito de formar governo no país, enquanto Alessandro Di Battista, um dos líderes do movimento que fez campanha contra a corrupção e contra a "casta política italiana", celebrou que, de agora em diante, "todos terão que falar conosco".

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"Sentimos a responsabilidade de governar (...) somos a força política que representa uma nação inteira, 11 milhões de italianos votaram em nós", disse Di Maio, jovem político de 31 anos, ao ressaltar que o partido teve ótimo desempenho na região sul, nas ilhas de Sardenha e Sicília, assim como em algumas localidades ao norte.

O resultado final da votação só é esperado para o final desta segunda-feira, e como a coalizão de centro-direita aparece com 37% dos votos e o m5E com 32%, a convocação de novas eleições em breve para tentar romper o impasse são outro cenário plausível.

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Ingovernáveis

Se as estimativas forem confirmadas, o cenário político que se desenha é o de um país ingovernável, com duas novas forças, muito diferentes, mas nascidas contra a chamada casta política. "Os vencedores desta batalha eleitoral são Matteo Salvini e Luigi Di Maio", mas "nada disso leva a qualquer tipo de governabilidade", assegura o editorial do "La Stampa".

Luidi Di Maio, do Movimento 5 Estrelas, disse que seu partido sente 'a responsabilidade de governar' a Itália Foto: EFE/ Alessandro Di Meo

A Bolsa de Valores de Milão reagia com relativa serenidade aos resultados. O índice FTSE Mib abriu com uma queda de 2%, mas logo se recuperou, situando-se em torno de -0,5%.

Nesse contexto, o governo alemão convocou, nesta segunda-feira, a formação na Itália de um "governo estável". "Nós desejamos boa sorte aos responsáveis para formar um governo estável, para o bem da Itália, mas também da nossa Europa", afirmou o porta-voz da chanceler Angela Merkel, Steffen Seibert.

A polêmica reforma eleitoral adotada em outubro na Itália complicou a situação, pois, ao favorecer as alianças políticas e tentar penalizar grupos independentes, como o M5E, causou uma "confusão gigantesca", segundo um popular jornal local.

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Para o maior partido da atual coalizão no poder de centro-esquerda, o Partido Democrático (PD), liderado por Matteo Renzi, a derrota deve ser amarga, com cerca de 19% dos votos. "Uma derrota clara e muito negativa, não negamos", comentou o porta-voz do PD, Maurizio Martina.

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Renzi ainda não se manifestou e a expectativa é que fale em público apenas nesta segunda-feira, após o resultado final da apuração oficial.

Cautela

Com as mudanças em uma lei eleitoral que combina o sistema proporcional com o majoritário, a composição das duas câmaras do Parlamento, que na Itália tem o mesmo poder, ainda não é conhecida.

Matteo Salvini, líder da formação de extrema direita Liga do Norte, exigiu ocupar a chefia do governo após seu partido obter mais votos que sua parceira de coalizão Forza Italia, da Silvio Berlusconi Foto: AP Photo/Luca Bruno

De acordo com especialistas, para obter uma maioria dos assentos são necessários de 40% a 45% dos votos.

A campanha foi dominada por questões como imigração, insegurança e promessas econômicas impossíveis de se cumprir, bem como agressões e insultos entre neofascistas e antifascistas, algo que não era visto desde os anos 1980.

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A incerteza dos resultados abre caminho para todos os cenários possíveis: uma maioria de direita, coalizão entre Forza Italia e a centro-esquerda, algo difícil de acordo com os comentaristas italianos, e até uma aliança entre a Liga e o M5E, que teoricamente poderiam atingir a maioria no Parlamento.

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Cerca de 46 milhões de italianos foram convocados para eleger 630 deputados e 315 senadores. Agora, o presidente italiano, Sergio Mattarella, será responsável nas próximas semanas por confiar a formação de um governo a quem ele acredita que possa formar uma maioria no Parlamento. / AFP, EFE e REUTERS

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