Jihadista entrega lista com 22 mil nomes de integrantes do Estado Islâmico

Dentre os dados dos extremistas estão endereços, telefones, contatos familiares e até grupo sanguíneo; maioria é de países árabes, franceses, alemães e britânicos

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LONDRES - Um jihadista entregou uma lista com as fichas de 22 mil membros da organização Estado Islâmico (EI), com seus endereços, telefones, contatos familiares e até tipo sanguíneo. São formulários que os voluntários do EI preenchem ao entrar para o grupo, e revelam que a maioria deles são de países árabes, seguidos por franceses, alemães e britânicos.

O canal de televisão britânico Sky News publicou nesta quinta-feira, 10, detalhes desta lista, que já havia sido citada na segunda-feira por alguns meios de comunicação alemães. As informações estão contidas em um dispositivo USB, roubado do chefe da polícia interna da organização.

Vídeo da Sky News mostra os supostos documentos com os 22 mil nomes de integrantes do Estado Islâmico Foto: AFP PHOTO / SKY NEWS

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Se forem autênticos, os documentos podem ter efeitos devastadores para o grupo, que controla amplas faixas da Síria e do Iraque e que reivindica a autoria de atentados letais na África e nos países ocidentais. Autoridades alemãs consideraram verdadeiras as informações referentes aos seus cidadãos jihadistas, mas até o momento não há mais reações oficiais.

A lista foi roubada por um membro do Exército Livre da Síria, opositor ao regime de Bashar Assad, que se integrou ao EI, mas acabou abandonando o grupo após ficar decepcionado, e se converteu em um reduto de antigos soldados iraquianos do Partido Baath do ditador Saddam Hussein, executado em 2006 após sua deposição por uma coalizão liderada pelos EUA.

O indivíduo teria sido identificado sob o pseudônimo de Abu Hamed, que entregou o dispositivo USB a uma jornalista na Turquia, explicando que havia abandonado o EI por considerar que "os valores islâmicos colapsaram" no grupo. "Esta organização é uma fraude, não tem nada a ver com o Islã", disse o miliciano decepcionado, que afirma que o Estado Islâmico abandonou seu quartel-general na cidade síria de Raqqa e se dirigiu ao deserto.

O ministro do Interior alemão, Thomas de Maziere, disse que a lista abrirá caminho para "realizar investigações mais rápidas, mais claras, e conseguir sentenças de prisão mais duras", além de ajudar a "entender melhor as estruturas" da organização.

A documentação é composta por formulários de adesão ao EI, com dados de milicianos de 51 países.

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Richard Barrett, ex-diretor de operações antiterroristas mundiais do MI6, serviço de inteligência britânicos, disse que o vazamento destes dados é "um golpe fantástico". "Será uma autêntica mina de ouro de informação de enorme significado e interesses para muita gente, em particular para os serviços de inteligência e segurança", disse Barrett.

O material conteria informações sobre numerosos jihadistas ainda não identificados na Europa do Norte, EUA, Canadá, África do Norte e Oriente Médio. A Sky News reproduziu estes formulários de 23 perguntas, que permitem identificar os recrutas por tipo sanguíneo ou pelo nome de solteira de suas mães, e que levam anotações sobre o "nível de compreensão da sharia" (a lei islâmica) dos membros do EI.

"Isso pode representar um avanço colossal" na luta contra o EI, afirmou Chris Phillips, diretor-geral do International Protect and Prepare Security Office, uma assessoria no que se trata de luta antiterrorista. A entrega do material "demonstra a que ponto o EI é vulnerável aos seus membros que se voltam contra ele", disse o especialista.

Nas listas ainda aparecem muitos jihadistas que já estavam fichados pelos serviços britânicos, como Abdel-Majed Abdel Bary, um ex-rapper do oeste de Londres que após seu alistamento no EI publicou no Twitter uma foto sua com a cabeça de uma pessoa decapitada na mão.

O nome de Junaid Hussain, hacker do EI, também aparece nas fichas. Nascido em Birmingham, foi morto em um ataque de drone em agosto.

Milhares de cidadãos europeus se uniram ao EI, que em 2014 proclamou a instauração de um califado entre Síria e Iraque. Autoridades de seus países temem que eles retornem para cometer atentados. /AFP

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