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Judeus israelenses minimizam ameaça de intifada

Em Jerusalém, moradores acreditam que decisão de Trump foi acertada e não interfere em negociações de paz, que consideram mortas

Por Andrei Netto e Jerusalém
Atualização:

JERUSALÉM - Mesmo com a ameaça de uma Terceira Intifada, o reconhecimento de Jerusalém como capital de Israel pelo presidente dos EUA, Donald Trump, é visto pelos judeus da cidade sagrada como um acerto político que “restabelece a verdade” histórica. Essa opinião vem sendo repetida por ortodoxos, praticantes e não praticantes ouvidos pelo “Estado” desde que Washington anunciou a mudança de sua embaixada.

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Artigo: Trump e a arte de fazer concessões O tema ainda não foi alvo de pesquisas de opinião em Israel, mas pode ser medido pelo termômetro das ruas. Ainda que temam a hipótese de uma revolta palestina, como exortaram os líderes do grupo radical islâmico Hamas na Faixa de Gaza, ou o aumento da violência e de atentados, judeus que vivem em Jerusalém ou visitam a Cidade Antiga em geral não hesitam em apoiar a medida de Trump.

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Jovens de 18 anos a idosos de 80 compartilham a visão oficial do governo israelense, segundo o qual Jerusalém é a capital do Estado hebreu há 3 mil anos e do Estado de Israel nos últimos 70 anos, e a dominação muçulmana teria representado um parêntese na história milenar da cidade.

“Os dias que estamos vivendo são históricos. É importante dizer ao mundo que Jerusalém é nossa capital, e apenas nossa”, diz M.G., 26 anos, desenvolvedor de internet que vivia em Jerusalém e hoje mora na periferia de Tel-Aviv. “É claro que tenho medo de uma intifada. Trouxe minha mulher para caminhar pelo bairro muçulmano. Ela ficou com tanto medo que tivemos de abandonar o plano. Mas a decisão é positiva.”

Em Hebron, tensão é ainda maior

A proclamação de Jerusalém como capital de Israel, feita em 1980 pelo Knesset, o Parlamento israelense, a partir da ocupação de Jerusalém Oriental na Guerra dos Seis Dias, em 1967, não é reconhecida pela comunidade internacional e foi condenada pela ONU.

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Para o judeu americano Isaac Freed, de 18 anos, hoje estudante de religião em Jerusalém, Trump não pode ser criticado por reconhecer o direito de Israel de ter sua capital. “Eu não tenho medo de que isso possa causar uma nova intifada”, afirmou o jovem, logo após orar junto ao Muro das Lamentações.

Na tarde de ontem, instantes após um agente de segurança ter ficado gravemente ferido ao ser esfaqueado por um militante palestino na estação rodoviária de Jerusalém, o economista e estudante de linguística americano Erik K., de 26 anos, entrou em uma rede de fast food com o celular em mãos mostrando fotos e vídeos do ataque e advertindo a todos para que tenham cuidado. “Uma intifada pode até acontecer, mas eu não acredito muito. E o processo de paz já está morto, de qualquer forma. Não haverá dois Estados, apenas um”, entende o jovem.

Para 80% dos israelenses, o processo de paz não existe mais e a atitude de Trump não altera nada em termos práticos. Essa também é a opinião de Gershon Baskin, fundador do Centro Israel-Palestina para a Pesquisa e a Informação (IPCRI), uma organização que defende a solução de dois Estados autônomos. “O que podemos é pensar em termos de um futuro processo de paz”, pondera. Para Baskin, a decisão de Trump pode ter agradado a opinião pública local, mas não levanta nem mesmo as ambiguidades criadas pelo anúncio. “Trump reconhece a realidade de que a capital do Estado de Israel é Jerusalém, mas não sabemos de que Jerusalém está falando. No futuro teremos de negociar suas fronteiras.”

Baskin afirma que o momento é de tensão, e o risco de uma intifada ainda não pode ser afastado, mesmo que a violência e os protestos tenham diminuído. “A decisão de Trump é algo que cria tensões, em meio a um momento de instabilidade, mas na prática não muda nada. De qualquer forma, o Hamas exorta por uma intifada duas ou três vezes por ano. Não há nenhuma novidade nisso.”

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