PARIS - O Tribunal Administrativo de Lille, no norte da França, autorizou nesta quinta-feira, 25, o desmonte de parte do campo de imigrantes de Calais, próximo ao Canal da Mancha. A decisão foi anunciada dois dias após a inspeção realizada pela Justiça a pedido de organizações não governamentais que tentavam impedir a destruição do acampamento.
A decisão de desmontar a "selva", como o campo é chamado, havia sido tomada pelo Ministério do Interior, que traçara como objetivo a remoção de entre 800 e mil estrangeiros que se instalaram em barracas no local. Esses imigrantes, a maior parte formada por sírios, iraquianos, afegãos e ienemitas, devem ser realocados em um Centro de Acolhimento Provisório (CAP), um conjunto de alojamentos montados em contêineres aquecidos e com água tratada e saneamento, que foi construído pelo governo em uma área adjacente.
As associações até aqui recusavam a transferência alegando que na área a ser desocupada viveriam na verdade até 3,5 mil pessoas e não haveria espaço suficiente para todos nas novas instalações. Além disso, as entidades reclamam da falta de cozinhas, áreas de convívio social, de uma escola, uma biblioteca, uma igreja e uma mesquita - infraestrutura que reproduziria o que existe, ainda que provisório e sob barracas, na "selva". Outra queixa das ONGs, entre as quais a Médicos do Mundo e o Socorro Católico, é que os imigrantes precisam se identificar a cada entrada e saída do CAP.
O Ministério do Interior considera a situação na "selva" um problema humanitário e está decidido a desmontar todo o acampamento. Embora tenha sido autorizada, a desocupação pode levar dias, porque a orientação dada pelo primeiro-ministro Manuel Valls é de que haja uma "resposta humanitária" às reivindicações das associações e dos imigrantes.
O momento em Calais, entretanto, é de preocupação. Na madrugada desta quinta, mais de mil estrangeiros tentaram invadir as instalações ferroviárias sob o Canal da Mancha na tentativa de chegar ao território da Grã-Bretanha. A ação foi bloqueada pela polícia da França. O impasse da "selva" ainda vem acompanhado de uma querela política com a Bélgica, cujas autoridades retomaram os controles na fronteira dos dois países. Hoje o ministro do Interior da França, Bernard Cazeneuve, afirmou que não entende a medida.