Justiça da Rússia acusa quatro homens por envolvimento na morte de líder opositor

Segundo o advogado de Zaur Dadaev, principal acusado de matar Boris Nemtsov, a acusação formal ‘não apresenta nenhuma novidade’ no caso, exceto pela data em que o assassinato começou a ser planejado

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MOSCOU - A Justiça da Rússia apresentou nesta terça-feira, 29, uma acusação formal de assassinato contra quatro dos cinco homens detidos pelo envolvimento na morte do líder opositor Boris Nemtsov, baleado a poucos metros do Kremlin em fevereiro de 2015.

"Neste momento estamos lendo a acusação", anunciou Shamsudin Tsakaev, advogado do principal acusado, o checheno Zaur Dadaev.

Boris Nemtsov era crítico das suspeitas de corrupção envolvendo o governo russo Foto: Maxim Shipenkov/ EFE

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O Comitê de Instrução (CI) da Rússia, órgão judicial semelhante à promotoria, também acusou Shadid Gubashev, Temirlan Eskerjanov e Jamzat Bakhaev.

A defesa do quinto detido, Anzor Gubashev, irmão de Shadid, não pôde comparecer nesta terça-feira ao CI. Assim, a acusação contra seu cliente será apresentada formalmente no início de janeiro.

A acusação formal "não apresenta nenhuma novidade" da instrução do caso, explicou Tsakaev, exceto pela data em que o assassinato começou a ser planejado, estimado pelos investigadores do CI em setembro de 2014.

"O envolvimento de todos os acusados foi comprovado por mais de 70 relatórios periciais, interrogatórios de testemunhas, acareações, provas apreendidas no domicílio dos detidos e gravações realizadas pelas câmaras de vigilância, incluindo as que estavam no local do assassinato", disse o porta-voz do CI, Vladimir Markin.

Por outro lado, Markin anunciou que a Justiça separará em uma causa independente a investigação sobre a autoria intelectual e a organização do assassinato de Nemtsov, atribuída ao checheno Ruslan Mujudinov, alvo de um mandado de busca e captura internacional desde novembro.

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O advogado da família do político opositor assassinado, Vadim Prokhorov, duvida que Mujudinov, ex-membro do batalhão checheno "Sever", seja o autor intelectual do crime. "Pode ser que seja organizador em um elo inferior. Mas os que encomendaram (o assassinato) são de altos cargos ", disse Prokhorov a agência de notícias Interfax.

Segundo o advogado, a investigação acusa Mujudinov para "proteger o entorno próximo de (Ramzan) Kadyrov", presidente da República da Chechênia, que qualificou Dadaev de "autêntico patriota russo".

Zaur Dadaev, o homem que segundo a Justiça teria efetuado os disparos, inicialmente admitiu sua culpa durante os interrogatórios, mas depois mudou sua versão, garantiu ter um álibi e denunciou que a polícia havia arrancado sua confissão à força.

Embora os familiares e correligionários de Nemtsov insistam que sua morte foi politicamente motivada, um tribunal de Moscou se negou recentemente a qualificar o crime como "assassinato de um cargo do Estado ou de personalidade civil".

O juiz deu por válidos os argumentos do Comitê de Instrução, que não acredita que o assassinato tenha sido motivado pela atividade profissional do político opositor, e decidiu que os cinco acusados cometeram o crime motivados pela recompensa que receberam das mãos de Mujudinov. Segundo uma fonte da investigação, o suposto organizador teria prometido 25 milhões de rublos (R$ 2 milhões) aos matadores de aluguel.

Ao mesmo tempo, de acordo com fontes da Interfax, o sumário do caso não explica os motivos de Mujudinov, que está foragido, em paradeiro desconhecido. /EFE

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