Líderes brasileiros no Paraguai apoiam governista

Para trabalhadores rurais, imposto sobre exportação de soja é determinante para apoio a Mario Benítez, do Partido Colorado

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Por Fernanda Simas
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Cerca de 350 mil brasileiros vivem no Paraguai, muitos se dedicam à agricultura, principal motor da economia exportadora do país. A imigração se intensificou entre os anos 70 e 80, quando o ditador Alfredo Stroessner incentivou a exploração de terras.

Líderes dos brasiguaios torcem por uma vitória de Mario Abdo Benítez, do Partido Colorado, porque ele não defende o aumento do imposto sobre a exportação da soja.

Mario Abdo Benitez, candidato do Partido Colorado Foto: REUTERS/Andres Stapff

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“Quem vai pagar esse imposto é o produtor e quem vai se beneficiar é a multinacional. Por que Cartes não está de acordo? Ele é empresário e sabe quem realmente paga a conta”, afirma o brasileiro Neimar Schuster, de 52 anos, dono de uma plantação familiar e da Agro Industrial Progreso S.A. No ano passado, o presidente Horacio Cartes (do Partido Colorado) vetou o aumento de 10% sobre as exportações de soja em estado natural que havia sido aprovado pelo Congresso.

O candidato à presidência do Partido Liberal, Efraín Alegre, que encabeça uma frente que reúne também partidos de esquerda e centro, entre eles a Frente Guasu, do ex-presidente Fernando Lugo, tem em seu plano de governo uma proposta de igualdade tributária e prevê um imposto sobre a soja. 

Com uma produção de 9,91 bilhões de toneladas na última safra, a soja é o principal motor da economia no Paraguai, representando 80% das exportações do país. Por isso, o tema se tornou uma “barganha política”. “Atacar ou defender a ideia de impostos é resultado de interesses políticos. No geral, as pessoas acreditam que os produtores de soja não pagam impostos como deveriam”, diz o analista econômico Víctor Pizzurno. 

Schuster chegou ao Paraguai em 1973, quando tinha 7 anos e, desde então, não voltou ao Brasil. Morador de Santa Rosa del Monday, ele diz estar confiante na vitória do candidato colorado e tem apenas um pedido. “Só precisamos de mais estrada, asfalto.” Na última safra, ele plantou 480 hectares de soja e 400 de milho.

Pizzurno cita estudos do Ministério da Agricultura do Paraguai que relacionam períodos de seca e queda na produção da soja à retração econômica, como em 2005 e 2006, mas lembra que o argumento dos críticos do imposto sobre a exportação também tem um caráter nacional. “O argumento é de uma ‘estrangeirização’ da terra paraguaia”. 

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Segundo o livro Extranjerización del Territorio Paraguayo, de Marcos Glauser, em 2009, 25,3% das melhores terras agrícolas estavam nas mãos de estrangeiros. O argumento motiva um grupo de indígenas que acampa desde janeiro na Praça das Armas, ao lado do Congresso. Segundo o líder do grupo, Ramón Benítez, muitos integrantes dos grupos têm propriedades de terras e perderam espaço para “colonos brasileiros”.

A advogada brasileira Vilma Dias, filha de produtores que vieram na onda da década de 70 e defensora de muitos brasileiros em casos de disputa de terras, explica que o problema é existirem dois títulos da mesma terra para pessoas diferentes.

“Brasileiros vieram, compraram as terras do governo militar e receberam os títulos. A partir de 1989, quando muda o regime, surge a duplicação dos títulos, ou seja, antigos donos que também têm o mesmo documento. Mas o Código Civil diz que, em casos assim, é proprietário quem tem a posse da terra, por isso os brasileiros acabam ganhando na Justiça.”

Vilma não afirma em quem vai votar, mas deixa claro ser opositora de Lugo. “Setores esquerdistas gostam de fazer campanha sobre isso, principalmente o Lugo. É uma campanha de divisão de classes, incita o ódio contra os produtores de soja”. Como Schuster, ela elogia o governo Cartes e cita a redução das invasões de terra durante o seu mandato.

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