Líderes dos países bolivarianos participam de homenagem a Fidel

O presidente do Equador, Rafael Correa, foi o primeiro a discursar na cerimônia que lotou a Praça da Revolução

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Por Cláudia Trevisan e Havana
Atualização:

Filhos espirituais da Revolução Cubana, os líderes dos países bolivarianos compareceram em bloco ontem na cerimônia de despedida de Fidel Castro em Havana, marcada pela ausência de vários dirigentes da região e da Europa. Em um indício da mudança de ventos políticos na América Latina, os presidentes da Argentina e Brasil não participaram do evento. O Brasil foi representado pelo chanceler José Serra.

Nem mesmo a esquerdista líder chilena Michelle Bachelet foi a Havana para o ato que reuniu centenas de milhares de pessoas na Praça da Revolução, o local de onde Fidel fez alguns de seus principais pronunciamentos. Os presidentes da Nicarágua, Daniel Ortega, do México, Enrique Peña Nieto, da Colômbia, Juan Manuel Santos, foram a Cuba para a cerimônia.

Multidão lota a Praça da Revolução, em Havana, para cerimônia em tributo a Fidel Castro Foto: REUTERS/Edgard Garrido

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O partido de Peña Nieto, o PRI, tem históricos laços com Cuba, enquanto Santos deve ao país a mediação do processo de paz na Colômbia. Primeiro-ministro do maior parceiro econômico de Cuba, o canadense Justin Trudeau não participou do evento. Da Europa, foram apenas o premiê grego, Alexis Tsipras, e o rei emérito da Espanha Juan Carlos, que abdicou do trono em favor do filho.

A cerimônia começou às 19 horas com a execução do hino nacional de Cuba. O primeiro a discursar foi o presidente do Equador, Rafael Correa, que agradeceu a inspiração de Fidel aos movimentos de esquerda da América Latina. “Até a vitória sempre, comandante”, afirmou, acrescentando que Fidel continuará vivendo.

O palco do evento foi montado sob o monumento a José Martí, o herói nacional que lutou pela independência de Cuba no século 19. Do outro lado da praça estão as imagens estilizadas e iluminadas de Che Guevara e Camilo Cienfuegos, que lutaram ao lado de Fidel para derrubar a ditadura de Fulgencio Batista. Um edifício na lateral da praça exibia na fachada uma foto em preto e branco de Fidel tirada em 1959, na qual ele usa uniforme verde oliva, boné e uma mochila nas costas. 

A praça estava lotada. Muitos levavam bandeiras de Cuba e tinham colados na roupa adesivos com os dizeres “Fidel entre Nosotros” e a hashtag #hastasiemprecomandante.

Tsipras, o premiê grego, recebeu aplausos entusiasmados quando usou o espanhol para saudar “os irmãos e irmãs valentes de Cuba”. Em grego falou da identidade ideológica entre seu governo e os princípios revolucionários de Fidel. “Adeus comandante. Até a vitória, sempre”, concluiu, também em espanhol. 

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O representante do Irã, o vice-presidente Eshaq Jahangiri, disse que seu governo e o comandante Fidel compartilhavam ideais anti-imperialistas. 

Até 20h45 (23h45 em Brasília) 9 chefes de Estado ou representantes de governos haviam discursado, entre eles o presidente sul-africano, Jacob Zuma. A previsão era que 25 pessoas falassem durante o evento. 

Os presidentes da Bolívia, Evo Morales, e da Venezuela, Nicolás Maduro, amigos pessoais de Fidel, visitaram o altar adornado com rosas brancas com um retrato do comandante jovem usando uniforme, montado no memorial a José Martí.

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“Estamos aqui para prestar homenagem a um gigante. Aqui está a Venezuela, aqui está a Revolução Bolivariana para dizer: seguimos de pé, seguimos juntos, hoje mais do que nunca com Fidel”, afirmou Maduro ao chegar ao Aeroporto Internacional José Martí. “É difícil e estranho chegar a Cuba e não ter Fidel fisicamente”, comentou Maduro, que destacou a figura do também do ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, um dos principais aliados da família Castro, morto em 2013. 

Chegaram ontem à ilha os dirigentes do Zimbábue, Robert Mugabe; da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang. “Não poderíamos ficar distante no momento de sua partida, não poderíamos ficar longe, sem vir dizer: ‘Até mais, camarada. Até mais, querido irmão’”, declarou Mugabe, de 92 anos, que está no poder há quase quatro décadas. China e Irã mandaram vice-presidentes.