WASHINGTON - O lançamento do livro de Michael Wolff sobre a Casa Branca, previsto para a próxima semana, foi antecipado para esta sexta-feira, 5, apesar das tentativas do presidente americano, Donald Trump, de evitar a publicação que, segundo ele, "está cheia de mentiras". Em uma entrevista para promover o livro, Wolff disse que quase todas as pessoas que convivem com Trump questionam sua capacidade para governar. Em algumas livrarias, o livro se esgotou rapidamente.
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Trump mobilizou seus advogados para impedir a publicação do livro sobre o seu primeiro ano na Casa Branca, que motivou o rompimento público com o ex-chefe de Estratégia de seu governo, Steve Bannon.
O presidente afirmou que o livro está cheio de mentiras e tem como base fontes que não existem. "Não autorizei nenhum acesso à Casa Branca (de fato, disse não várias vezes) ao autor deste livro falso! Nunca falei com ele para o livro", assegurou no Twitter, se referindo a Wolff.
O autor, por sua vez, afirmou ter falado por três horas com o magnata antes e depois de sua eleição para poder escrever o livro. "Falei com o presidente, se ele se deu conta de que era uma entrevista ou não, não sei, mas não estava em 'off'" (algo a ser mantido em sigilo), apesar de o presidente ter escrito na quinta à noite em seu Twitter que "nunca falou para um livro".
"Cem por cento de quem o cerca, até Jared Kushner, seu genro, e Ivanka Trump, sua filha, questionam sua capacidade para governar", declarou Wolff à rede NBC.
"Todos o descreveram da mesma maneira; dizem que é como um menino, ou seja, que precisa de gratificação imediata, e tudo gira em torno dele", indicou o autor do livro "Fire and Fury: Inside the Trump White House" (Fogo e fúria na Casa Branca de Trump, em tradução livre), que foi convidado para o famoso programa matutino "The Today Show".
"Dizem que é um imbecil, um idiota", acrescentou o escritor, que garante ter entrevistado fontes que convivem de perto com o presidente todos os dias.
O livro "Fire e fury: inside the Trump White House" (Fogo e fúria: dentro da Casa Blanca de Trump, em tradução livre), já circulava nas redações em Washington desde quinta-feira e foi escrito com base em cerca de 200 entrevistas com funcionários do governo e mostra uma Casa Branca imersa em uma caótica e permanente guerra interna ao longo do ano passado.
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Em nome de Trump, um escritório de advocacia enviou uma carta de 11 páginas ao autor e à editora que publica o livro, solicitando a suspensão da publicação e distribuição da obra.
Na carta, os advogados do presidente afirmam que "o senhor Trump exige que seja interrompida e evitem qualquer publicação, divulgação, ou distribuição do livro" e, além disso, pede que os responsáveis publiquem "uma retratação plena e completa, bem como um pedido de desculpas".
"Por favor, também envie imediatamente uma cópia eletrônica do livro (...) e via mensageiro uma cópia do livro físico a este escritório para que possamos avaliar adequadamente as declarações contidas", acrescentaram os advogados do presidente à editora.
No entanto, o autor do livro, Michael Wolff, publicou na quinta-feira um longo artigo na edição eletrônica da Hollywood Reporter, que já no título deixa clara a sua opinião sobre o que viu: "My year inside Trump's insane White House" (Meu ano dentro da insana Casa Branca de Trump, em tradução livre).
A obra deveria chegar ao mercado na semana que vem, mas por conta deste escândalo, já é o livro com maior volume de compra antecipada no site da Amazon.
Bannon, chamado ao silêncio
A divulgação, na quarta-feira, de trechos do livro provocou um rompimento público de Trump com o polêmico Bannon, que foi um dos coordenadores de sua campanha eleitoral e durante pouco mais de seis meses foi o estrategista-chefe da Casa Branca.
Bannon, que renunciou ao cargo em agosto, fez declarações explosivas a Wolff. Em particular, afirma que o filho mais velho de Trump, Donald Trump Jr., cometeu "traição" por seus contatos com pessoas próximas à Rússia durante a campanha e seus negócios obscuros, denúncias que levaram a uma explosão de raiva do presidente.
Em uma furiosa nota oficial, Trump afirmou, também na quarta, que Bannon havia perdido o juízo desde que foi demitido da Casa Branca por vazar "notícias falsas" à imprensa.
Advogados do presidente também enviaram uma notificação legal a Bannon para alertá-lo de que poderia enfrentar um processo criminal por violar um acordo de confidencialidade depois de deixar de trabalhar na Casa Branca.
Um 'grande homem'
Na quinta-feira, Bannon buscou amenizar a tensão com seu ex-chefe e, em uma entrevista de rádio, disse que Trump é "um grande homem". "Eu o apoio incansavelmente, seja em viagem pelo país (...), na rádio, ou na Internet", declarou à rádio Sirius XM.
Em seu artigo de quinta sobre o conteúdo de seu livro e sua experiência na Casa Branca, Wolff descreve um cenário caótico na presidência, com reuniões aos gritos e vazamentos à imprensa para eliminar adversários na disputa pelo poder.
Segundo Wolff, a filha de Trump e seu marido, Ivanka Trump e Jared Kushner, são os que realmente têm as rédeas da Casa Branca, e são os responsáveis pelas renúncias de Bannon e do primeiro chefe de Gabinete, Reince Priebus.
O artigo descreve Trump com um homem incapaz de controlar a Casa Branca, que se repete constantemente, para desespero de seus parentes, e tem dificuldades de reconhecer seus próprios velhos amigos.
Para conter os vazamentos, a Casa Branca anunciou que a desde quinta-feira será proibido o uso de celulares pessoais na Ala Oeste, área operacional da presidência e centro do poder dos Estados Unidos. / AFP