Loretta Lynch se torna primeira secretária de Justiça negra dos EUA

Ex-procuradora-geral do distrito leste de Nova York foi empossada nesta segunda-feira pelo vice-presidente Joe Biden com a promessa de restabelecer a confiança na lei e nos agentes que a aplicam

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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

WASHINGTON - Primeira mulher negra a ser nomeada para o Departamento de Justiça dos EUA, Loretta Lynch assumiu o cargo na manhã desta segunda-feira, 27, com as promessas de restaurar a confiança na lei e nos que a aplicam, de conciliar o combate ao terrorismo com o respeito aos direitos civis e de proteger a internet de ataques cibernéticos. Lynch substituirá Eric Holder, que foi o primeiro negro a ocupar o cargo. 

A única mulher a desempenhar a função anteriormente foi Janet Russo, nomeada em 1993 pelo então presidente Bill Clinton. Indicada em novembro pelo presidente Barack Obama, Lynch só foi confirmada pelo Senado na semana passada, em um dos mais demorados processos de aprovação da história. 

Vice-presidente dos EUA, Joe Biden (E) empossa Loretta Lynch (D) como a 83ª secretária de Justiça do país Foto: Andrew Harnik/AP

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O Departamento de Justiça é o mais importante órgão responsável pela segurança pública dos EUA e une funções que no Brasil são separadas entre o Ministério da Justiça e a Procuradoria Geral da República. Entre outras agências, estão sob sua jurisdição o FBI (a Polícia Federal dos EUA), a DEA (responsável pelo combate ao tráfico de drogas) e a entidade responsável pelas ações antitruste do governo federal.

O Departamento de Justiça também é responsável pela defesa de direitos civis. Nesse terreno, Lynch terá de enfrentar os casos de violência policial contra negros desarmados que ocorrem nos EUA. A tensão racial entre os responsáveis pela segurança pública e comunidades afro-americanas explodiu no ano passado com a morte de Michael Brown, um jovem de 18 anos que foi morto tiros por um policial branco. O caso provocou semanas de protestos em Ferguson, Missouri, alguns do quais violentos.

O mais recente conflito do tipo se desenrola em Baltimore, cidade a 60 km de Washington, na qual afro-americanos representam 63% da população. Há oito dias, um homem negro de 25 anos, Freddie Gray, morreu depois de ter sido preso por um grupo de policiais brancos. Gray teve sua coluna vertebral fraturada em circunstâncias ainda não esclarecidas, entrou em coma e morreu no dia 19. 

Por determinação de Holder, o Departamento de Justiça iniciou uma investigação para determinar se houve violação dos direitos civis de Gray. Vários protestos ocorreram em Baltimore na última semana, com manifestantes exigindo explicações sobre o que ocorreu. Seis policiais envolvidos na prisão de Gray foram suspensos, enquanto as investigações ocorrem. 

Filha de um pastor batista e de uma bibliotecária, Lynch é formada em Harvard e ocupou em duas ocasiões o cargo de procuradora-geral do Distrito Leste de Nova York. 

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No fim do anos 90, Lynch conseguiu a condenação a 30 anos de prisão do policial que espancou e atacou sexualmente o imigrante haitiano Abner Louima, um dos principais episódios de violação de direitos civis por agentes de segurança daquela época.

Lynch também atuou em vários casos de terrorismo, entre os quais o que levou à condenação, em 2012, de um cidadão de Bangladesh acusado de planejar um atentado a bomba contra o edifício do Federal Reserve (o banco central dos EUA) em Nova York.

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