Em sua primeira Cúpula do Mercosul, o presidente argentino Mauricio Macri reivindicou ao governo do venezuelano Nicolás Maduro que liberte presos políticos. O líder chavista teve como defensora a chanceler Delcy Rodríguez. Em um discurso agressivo que marcará a 49.ª reunião do bloco, ela exibiu fotos do conflito venezuelano enquanto acusava o argentino de interferir na soberania alheia e mandar soltar torturadores.
Enquanto ouvia a venezuelana, um ruborizado Macri conversava inquieto com sua chanceler, Susana Malcorra, e seu chefe de gabinete, Marcos Peña. Irritado, aparentava querer interrompê-la para rebater as afirmações. Delcy Rodríguez representou a Venezuela porque Maduro cancelou sua viagem a Assunção na noite de domingo, após sinais de que a proteção aos direitos humanos seria foco do encerramento.
Em razão do critério de ordem alfabética, o chefe de Estado da Argentina falou primeiro. “Quero pedir, aqui diante de todos os presidentes, dos Estados-membros e associados do Mercosul, a rápida libertação dos presos políticos na Venezuela. Não pode haver lugar para a perseguição política por razões ideológicas, nem a privação ilegítima da liberdade por pensar distinto”, disse Macri no trecho mais duro de seu discurso de 11 minutos, em que solicitou ainda a Caracas compromisso com “uma verdadeira cultura democrática”.
Ele ponderou que seu governo viu com satisfação a aceitação do resultado da eleição do dia 6, na qual a oposição venezuelana passou a comandar o Congresso. Pediu que os opositores sejam prudentes, para em seguida mandar outro recado a Caracas. “Chegou a hora de pedir um pouco mais à democracia. No século 20, superamos as ditaduras e dissemos nunca mais aos governos militares”.
A alusão aos regimes militares foi justamente usado pela chanceler venezuelana que mais indignou Macri. Delcy Rodríguez exibiu uma foto do opositor Leopoldo López, condenado a 13 anos e 9 meses, enquanto acusava Macri de ingerência indevida por pedir a Caracas a libertação de presos políticos, bem como de proteger torturadores. “Se formos falar de direitos humanos, senhor Macri, temos de fazer sem dupla moral”, disse a diplomata.
Sacou então um arquivo fotográfico para tentar demonstrar que as manifestações da oposição venezuelana em 2014 foram violentas. Exibiu uma foto de um homem com uma bazuca e prédios públicos incendiados, depois de mostrar a imagem de López. “O senhor está defendendo esse homem, está defendendo esse tipo de manifestação, esse tipo de violência política”, afirmou.
A chanceler criticou os protestos que reiteradamente chamou de pacíficos, em tom irônico. “Defendemos o direito à não ingerência em assuntos internos.”
“Entendo que o presidente Macri queira pedir liberdade para esses violentos. Entendo porque sei que um de seus primeiros anúncios foi a libertação de responsáveis por tortura, desaparições e assassinatos durante a ditadura”. Macri não fez qualquer anúncio parecido a esse desde o dia 10, quando assumiu.
A chanceler venezuelana criticou ainda a denúncia feita por um promotor contra de Hebe de Bonafini, uma das fundadoras da associação Mães da Praça de Maio, por incitação à violência. Ela convocou os argentinos a uma marcha para resistir ao governo de Macri. O pedido de indiciamento de Bonafini por um advogado que defende 11 repressores da ditadura militar.
Após o encerramento da cúpula, a chanceler argentina disse que a informação que tinha Delcy Rodríguez era errada e por isso o presidente não daria uma resposta formal. “Obviamente se nega tudo o que a chanceler disse a respeito do presidente”, afirmou.
Após o fim da reunião e a foto de encerramento, Macri e Delcy Rodríguez estiveram entre os convidados para o almoço oferecido pelo presidente paraguaio, Horacio Cartes. Segundo um dos organizadores, que também esteve no local, Macri e a chanceler comeram no mesmo ambiente e se cumprimentaram em um corredor.