É uma grande honra para um político do Velho Continente sair na capa da revista americana Time. Na França, o único contemplado com a distinção havia sido o presidente François Mitterrand. Hoje, um outro entra na galeria: o atual presidente, Emmanuel Macron, e com mais méritos do que Miterrand. Este era um ator veterano, enquanto Macron era um desconhecido até dois anos atrás. Chegou à cadeira de presidente após uma trajetória meteórica, sempre sorrindo, na tenra idade de 40 anos.
Num agrado extra, Time apresenta Macron como “o futuro líder da Europa”. A revista acertou em cheio. A escalada de Macron tem de cara esse sentido. Ele é um sopro de juventude nessa União Europeia envelhecida, cujos partidários são cada vez menos entusiastas.
Nas mais recentes eleições presidenciais francesas, dos seis candidatos na disputa, cinco eram hostis, moderada ou violentamente, à UE. Só um era partidário, com paixão e energia: Macron. Mas ele não era só favorável ao bloco. Acrescentava que a União Europeia é uma máquina enferrujada, que Bruxelas se afoga na burocracia, nas formalidades, nos lobbies e na estupidez. Que é preciso reconstruir tudo, do alicerce ao telhado.
De fato, a UE se encontra em estado lastimável. Neste ano, vimos a separação de um de seus maiores pedaços, a Grã-Bretanha. Como países importantes, sobraram a Alemanha e a França. Há anos se diz que o motor franco-alemão puxa a Europa. É verdade, com a ressalva de que esse motor é muito mais alemão, pois os três últimos presidentes franceses eram fracos demais se comparados a Angela Merkel: Jacques Chirac, Nicolas Sarkozy e François Hollande.
O motor franco-alemão voltará a funcionar? Não é certo. Enquanto Macron pode ser comparado a um motor de Fórmula 1, o motor alemão (Merkel) parece um pouco cansado, rateando nas ladeiras mais íngremes. Por quê? Não em razão de Merkel, que continua a mesma. Acontece que ela perdeu nas últimas eleições legislativas a autoridade absoluta que exercia sobre a Alemanha e a Europa.
Se venceu as legislativas, foi sem brilho. Merkel vai formar o governo, é verdade, mas os socialistas, que até aqui governavam com ela, decidiram sair da coalizão. Assim, Merkel será forçada a se aliar a partidos que estão longe de compartilhar seus pontos de vista, particularmente sobre a UE. Como, então, poderá ela continuar no papel de líder do bloco de se compor com ministros frios no que se refere à Europa?
Acabamos de presenciar um exemplo impressionante desse súbito mutismo da Alemanha sobre a Europa. Desde segunda feira, 23 dos 28 Estados que constituem a UE estão reunidos em Bruxelas para se debruçar sobre a Europa e a Defesa comum, um tema capital. Nesse campo, o balanço da UE é nulo. Além disso, Donald Trump decidiu que os EUA não mais promoverão sozinhos a segurança do mundo, tirando do circuito os soldados e os dólares americanos.
A Europa viu-se condenada a adotar finalmente uma organização comum de defesa. Em vista desse impasse, o que fez Merkel? Nada. Ficou negociando com os pequenos partidos alemães que poderiam fazer parte de seu futuro governo. É uma bela ocasião para os franceses assumirem o controle do ônibus europeu, tomarem energicamente o volante e delegarem a Merkel, por exemplo, a incumbência de calibrar os pneus. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ É CORRESPONDENTE EM PARIS