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Maduro ameaça estatizar fábricas da maior produtora de alimentos do país

Presidente chavista afirma que dono do grupo Polar deve ‘entregar’ o patrimônio ‘ao povo’ se não conseguir administrá-lo

Atualização:

CARACAS - Em meio a medidas para ampliar a liquidez de suas reservas internacionais, afetadas pela queda do petróleo, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ameaçou na madrugada de sexta-feira as Empresas Polar – a maior produtora privada de alimentos da Venezuela – de entregar suas fábricas ‘ao povo’, em uma referência a uma possível estatização depois de o grupo reclamar da falta de dólares para importação de matéria-prima e pedir medidas pró-mercado do governo chavista.

Lorenzo Mendoza, presidente da Polar, elaborou proposta de retomada econômica e a entregou ao governo Foto: Carlos Garcia Rowlins|Reuters

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Com cada vez menos dólares em caixa em virtude da queda do preço do petróleo no mercado internacional, o governo venezuelano optou ontem por fazer um swap de suas reservas em ouro com o Deutsche Bank, segundo a Reuters. A medida tem como objetivo aumentar a liquidez das reservas cambiais venezuelanas, de US$ 15,3 bi. Estima-se que 2/3 desse valor seja em ouro, repatriado ao país pelo presidente Hugo Chávez em 2011 como prova da “independência” venezuelana.

“Se você não consegue gerir suas empresas, entregue-as ao povo, que ele consegue”, disse o presidente sobre Lorenzo Mendoza, que na terça-feira lançou um plano para melhorar a produção de alimentos no país e reclamou da falta de dólares para compra de matérias-primas. “Deixo nas mãos do gabinete econômico o que fazer com a guerra declarada por Lorenzo Mendoza neste momento de dificuldades.”

No mês passado, Maduro pediu à Assembleia Nacional a aprovação de um decreto de emergência econômica que, entre outros poderes, permitiria intervenções no setor privado. O texto foi vetado pela maioria opositora do Parlamento.

Mendoza reiterou que o monopólio das divisas está nas mãos do governo há 13 anos quando se iniciou o controle de câmbio e, ao longo desse período, a Polar não pôde adquirir dólares preferenciais necessários para poder “manter os baixíssimos preços de seus produtos básicos.”

“Os privados temos de produzir a perda, isso não é sustentável, é ridículo”, criticou.

Mendoza propôs ainda que se reconheça a dívida do Estado venezuelano com os provedores internacionais de matéria-prima e seja iniciado um processo de refinanciamento dessa dívida.

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Ouro. Em meio à retórica mais agressiva com o setor privado, o Banco Central da Venezuela (BCV) negocia com o banco alemão Deutsche Bank um swap de suas reservas em ouro para aumentar sua liquidez em moeda forte, revelou ontem a agência Reuters.

Com 64% de suas reservas no metal precioso, a Venezuela viu no último ano a entrada de dólares em seu fluxo de caixa cair 70% com a baixa no preço do petróleo. Ontem, a cesta venezuelana fechou a semana cotada a US$ 25,27.

“Estão buscando dinheiro de todos os lados”, disse uma fonte que acompanha a negociação.

Segundo analistas, das reservas venezuelanas, apenas US$ 2,4 bi são em dólares. O país tem a pagar ao longo deste ano US$ 16 bi de sua dívida externa.

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Se concretizado, o acordo de swap com o Deutsche permitiria ao BCV receber à vista um determinado valor e dar o ouro como garantia para um pagamento no futuro.

Para o sociólogo Luis Vicente León, do Instituto Datanálisis, o chavismo gasta suas últimas munições para tentar mitigar a crise. “O problema de fluxo de caixa é muito grave e piorou com a queda do preço do petróleo”, disse León ao Estado. “Além disso, há a questão da dívida que o governo tem de pagar ao longo do ano, que já é maior do que as reservas em ouro e dólar do BCV”.”

Desde 2014, quando o preço do petróleo começou a cair, o BCV começou a dar o ouro das reservas repatriado por Chávez em 2011 como garantia de empréstimos. As primeiras operações foram feitas com o banco suíço BPI, com sede na Basileia. Desde o fim do ano passado, no entanto, o governo venezuelano não conseguiu contratar novos swaps porque a instituição já temia um calote. / LUIZ RAATZ, COM REUTERS E EFE

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