PUBLICIDADE

Maduro lança 'plano antigolpe' para eleição legislativa; oposição vê ameaça

Por Murillo Ferrari
Atualização:

Opresidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou que sua "revolução bolivariana está em um momento de emergência" e disse ser necessário um "plano antigolpe" para garantir a vitória do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) na eleição parlamentar de 6 de dezembro, sugerindo que o governo poderia adotar medidas para impulsionar seus candidatos diante de um cenário de possível vitória da oposição."Essa revolução não será traída, nem entregue, jamais", afirmou Maduro, na noite de segunda-feira, em discurso nos arredores do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), acompanhado de candidatos chavistas para a Assembleia Nacional. Na semana passada, o chavista declarou que a Venezuela "só pode ser governada por revolucionários" e os opositores deveriam "rogar para que a 'revolução' vença a eleição parlamentar".Apesar das ameaças de Maduro, que elevou o tom contra seus adversários, o sociólogo Luis Vicente León, do instituto Datanálisis, disse não acreditar que o governo deixará de reconhecer o resultado da votação, qualquer que seja o cenário. "A ameaça com o objetivo de influenciar o voto é uma estratégia clássica do chavismo às vésperas das eleições", afirmou León ao Estado.Para o sociólogo, o custo de uma manobra para manter o controle do Legislativo seria muito alto para Caracas, já que poderia significar a perda de apoio de parceiros importantes na região. "Como a presidente Dilma Rousseff, por exemplo, poderia reconhecer e apoiar um governo venezuelano que rechaça ou não reconhece um triunfo eleitoral de seus adversários no Congresso?"O analista também afirmou que a declaração de Maduro seria um sinal da deterioração do respaldo popular ao governo, cada vez mais associado à crise econômica que afeta o país, que tem hoje a maior inflação do mundo e sofre com a escassez de itens de primeira necessidade - a pesquisa mais recente do Datanálisis indicou que o presidente é aprovado por apenas 22% dos venezuelanos, o menor índice de um líder desde a chegada de Hugo Chávez ao poder, em 1999.Além disso, as pesquisas para as eleições parlamentares divulgadas pela imprensa venezuelana em outubro colocam os candidatos chavistas com 20,9% das intenções de voto, enquanto os candidatos opositores tiveram 40,4% da preferência, em média.O deputado Carlos Eduardo Berrizbeitia, da Mesa de Unidade Democrática (MUD) - principal coalizão opositora do país -, qualificou como "muito perigosa" a convocação do plano antigolpe de Maduro. "Lamentavelmente, ficamos com a sensação de que o presidente e seu partido não admitirão a derrota. O próprio Maduro já falou que eles têm de vencer 'de qualquer forma', o que é algo bem atípico para uma campanha eleitoral", afirmou Berrizbeitia.Maduro, que foi ao CNE para assinar um documento se comprometendo a aceitar os resultados das eleições, disse que são os opositores que não reconhecerão a votação."Nós sabemos de antemão que eles não reconhecerão o resultado, que não estão fazendo campanha, que buscam apoio internacional para tentar causar prejuízo à Venezuela", acusou o presidente.Em sua conta no Twitter, o número 2 do chavismo e presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, escreveu que a oposição não assinou o mesmo documento que Maduro "porque, para eles, a paz não serve. Eles querem o caos".O secretário executivo da MUD, Jesús "Chúo" Torrealba, rebateu as acusações, dizendo que o documento validado por Maduro não tem seriedade. "Que acordo é esse relativo aos resultados que foi assinado por alguém que já disse que ganhará a eleição de qualquer jeito?", ironizou.A coalizão, que protestou em várias oportunidades contra o bloqueio imposto pelo governo à observação estrangeira da eleição e pela suposta utilização de recursos públicos para campanhas de candidatos chavistas, apresentou há quase duas semanas uma proposta de acordo que, segundo a aliança, não teve resposta do CNE. / COM EFE

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.