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Maduro prepara medidas cambiais, mas economistas mantêm pessimismo

Por Felipe Corazza e CARACAS
Atualização:

Atualizado às 17h45 Enquanto ainda prepara medidas para tentar conter a cotação do paralelo e a inflação, o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ameaçou ontem romper relações diplomáticas com os Estados Unidos. Ele disse que o governo de Barack Obama “está conspirando para derrubar” a liderança venezuelana.

Presidente da Venezuela, Nicolás Maduro Foto: EFE

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Fazendo um balanço da reunião da Celac, encerrada na quinta-feira, 29, na Costa Rica, o líder chavista disse ter sido alertado por “diversos” presidentes, nos corredores do evento, sobre um golpe de Estado. Discursando no Palácio de Miraflores, sede do governo, Maduro afirmou que “há uma campanha internacional” de “guerra psicológica” para “justificar um golpe”. “Alerta, alerta, Obama. Chegará um momento em que será impossível manter relações diplomáticas com seu governo”, disse. O discurso oficial é que a crise econômica e social que o país atravessa é uma “guerra econômica” que incluiria conspiradores dentro e fora da Venezuela. O presidente atacou a imprensa, afirmando que o The New York Times virou o “porta-voz oficioso do governo dos EUA”. O jornal ABC, da Espanha, que publicou denúncias contra o presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Diosdado Cabello, foi chamado de “único jornal hitlerista e fascista ainda existente no mundo”. Como parte do “combate econômico”, o chavismo realizou ontem, em Caracas, um fórum chamado “O que é e como vencer a guerra econômica”. Com participação de ministros, parlamentares e militantes, o evento tinha como objetivo reforçar a ideia de que o país é vítima de uma conspiração articulada no exterior. Os discursos foram feitos em um teatro no centro da capital. Um telão exibia vídeos do ex-presidente Hugo Chávez falando sobre “manobras imperialistas” de ataque econômico à Venezuela e à América Latina. A ministra de Comércio, Isabel Delgado, reconheceu que o governo de Maduro cometeu erros, mas disse que essas falhas não são responsáveis pela situação atual do país. “O que está acontecendo na Venezuela não é um erro do processo revolucionário, como diz a direita. Estamos atravessando uma guerra. Estamos vivendo um processo político, geopolítico mundial onde as forças do planeta estão se movendo.”

O deputado chavista Jesús Faría acusou os “conspiradores” de tentar provocar um quadro semelhante ao de 1989, quando uma crise econômica profunda, com escassez de alimentos, provocou a convulsão social depois chamada de Caracaço, com centenas de mortos.

Câmbio. Desde dezembro, a cúpula chavista prometia medidas para reestruturar o câmbio, composto por três faixas distintas – com valores de 6,3, 12 e 51 bolívares por dólar. Na semana passada, Maduro anunciou, por fim, a reforma, mas manteve a estrutura de três faixas. O governo tenta conter a inflação e o descontrole do preço do dólar, que têm causado uma crise social de escassez de alimentos e falta de outros recursos básicos.

As mudanças serão apenas nas características de cada banda cambial. Uma delas, a que, de acordo com o governo, ajudará a reduzir o câmbio paralelo – hoje em 183 bolívares por dólar – seria uma cesta de flutuação livre com participação do Banco Central, da estatal de petróleo PDVSA e da iniciativa privada, incluindo pessoas físicas.

Para o economista venezuelano e ex-diretor da PDVSA José Toro Hardy, o plano é modesto demais para resolver a situação atual. “As pessoas estarão muito refratárias a negociar nessa nova bolsa, pois darão informações ao governo que preferem manter privadas.” Outro problema apontado pelo professor é que o processo de compra de dólares e importação de mercadorias está viciado. “É uma forma terrível de manejar a economia. Quem tem influência, consegue os dólares a preço preferencial.”

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