CIDADE DO MÉXICO - O presidente do México, Enrique Peña Nieto, ordenou na quinta-feira a criação de uma promotoria especializada em encontrar pessoas desaparecidas, após uma reunião com os pais dos 43 estudantes que sumiram em Iguala, no estado de Guerrero, há um ano.
O porta-voz do governo, Eduardo Sánchez, informou em entrevista coletiva que os parentes dos jovens apresentaram ao presidente um documento com oito reivindicações, e que a viabilidade de cada uma delas será analisada pela Procuradoria-Geral da República, pela Secretaria de Governo e pelo Ministério das Relações Exteriores.
O líder mexicano pediu que a Procuradoria incorpore "as recomendações e linhas de investigação propostas pelo grupo de especialistas da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)", que entregou ontem ao líder um relatório sobre o caso, apresentado de forma antecipada no início do mês.
O presidente também ordenou que sua equipe prossiga com os trabalhos para saber o que ocorreu com cada um dos desaparecidos, reiterando que a investigação não se encerrou e "chegará até onde tiver que chegar", disse Sánchez.
Para atender às recomendações do Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes da CIDH, a Procuradoria deverá formar uma equipe de peritos de mais alto nível para analisar os fatos ocorridos no aterro sanitário no dia 26 de setembro de 2014.
Segundo a versão da promotoria, os estudantes foram detidos por policiais corruptos de Iguala e entregues a membros do cartel Guerreros Unidos. Posteriormente, eles teriam sido assassinados e incinerados em um aterro do município vizinho, Cocula. A versão foi questionada pelo grupo da CIDH, que concluiu ser impossível que os jovens tenham sido queimados no local.
Sobre a divergência, o porta-voz do governo mexicano afirmou que há muitos pontos semelhantes entre os relatórios, apesar das "duas hipóteses sobre um mesmo fato". "Por isso haverá uma terceira perícia com o objetivo de ter mais elementos para esclarecer com certeza o que ocorreu entre a noite do dia 26 de setembro e a madrugada do dia 27", disse Sánchez.
No encontro de quase três horas, que contou com presença de 110 parentes e alunos da Escola Normal Rural de Ayotzinapa, a mesma dos 43 desaparecidos, a Procuradoria falou sobre os avanços do caso, que prendeu 111 pessoas, e abordou o atendimento às vítimas.
Peña Nieto ouviu os familiares, disse que "compartilhava da dor e compreendia sua indignação", e reafirmou a vontade do governo de esclarecer o ocorrido.
"O presidente disse a eles textualmente: 'Estamos do mesmo lado, os senhores e eu buscamos o mesmo, saber o que ocorreu com todos e cada um de seus filhos'", acrescentou Sánchez.
Rejeição. O advogado representante das famílias dos estudantes desaparecidos, Vidulfo Rosales, disse que elas “rejeitaram totalmente” a criação da promotoria especializada para todas as pessoas que desapareceram no país. Ele afirmou que o caso dos 43 estudantes precisa de uma promotoria própria. /EFE e ASSOCIATED PRESS