Após mais de um ano do desaparecimento dos 43 estudantes da Escola Normal Rural de Ayotzinapa, na cidade mexicana de Iguala, a Procuradoria-Geral publicou ontem o documento de sua investigação de mais de sete meses sobre o caso. O relatório, de 54 mil páginas e elaborado por cerca de 100 pessoas, é divulgado no momento em que parentes dos jovens cobram evolução das investigações.Há um ano, o presidente Enrique Peña Nieto havia prometido que faria justiça com relação ao que é considerado um dos piores casos de violência do país, mas as investigações não seguiram o ritmo esperado. Para Erick Langer, diretor do Centro de Estudos Latino-Americanos na Universidade de Georgetown, o caso não evoluiu. "Quanto mais tempo leva, mais difícil fica para as pessoas entenderem o que realmente ocorreu", afirmou ao Estado.Cobrança. Apesar da carência de respostas, parentes das vítimas não desistem de tentar descobrir seu paradeiro. No mês passado, pais e amigos dos jovens fizeram greve de fome por 43 horas pouco antes de serem recebidos por Peña Nieto.Após o encontro, que contou com a presença da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), o presidente ordenou a criação de uma promotoria especializada em encontrar desaparecidos no país. "Há centenas de desaparecidos no México. Por isso, a criação da promotoria especializada é importante", avalia Langer. Parentes dos jovens, no entanto, pedem uma promotoria voltada unicamente para o caso dos 43.De acordo com a versão da promotoria, os estudantes foram detidos por policiais corruptos de Iguala e entregues a membros do cartel Guerreros Unidos, conhecido por sua violência. "É difícil controlar a atividade do grupo. Eles são dezenas de gangues", diz Langer.O Grupo Interdisciplinar de Especialistas Independentes (GIEI), que também investiga o caso, apresentará no dia 20 o relatório de "investigação e primeiras conclusões dos desaparecimentos e homicídios", questionando a versão oficial.Na reunião, Peña Nieto também ordenou que equipes de busca retomassem os trabalhos, paralisados, segundo Langer, pois quando começou a procura por restos mortais, foram encontrados corpos de muitas outras pessoas. "É difícil encontrar vestígios dos jovens porque há inúmeros lugares para procurar e analisar. Isso está fora de controle. O governo perdeu o controle", afirma.O governo de Peña Nieto tem sido marcado por um aumento no número de assassinatos. Quase 30 mil pessoas foram mortas durante os 20 primeiros meses de sua gestão.