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Micheletti adia instalação de 'governo de coalizão'

Líder interino disse que atraso visa dar 'tempo de reflexão' a Manuel Zelaya.

Por BBC Brasil
Atualização:

O presidente interino de Honduras, Roberto Micheletti, anunciou nesta sexta-feira, o adiamento, para a próxima semana, da instalação do governo de união nacional composto por ele de maneira unilateral na noite da quinta-feira. Micheletti havia afirmado que o novo governo seria apresentado e passaria a operar no país ainda nesta sexta-feira, mas o líder interino diz ter reconhecido a necessidade de um "compasso de espera" já que o presidente deposto, Manuel Zelaya, se negou participar do governo de coalizão antes de ser restituído à Presidência. "Dando novamente espaço de reflexão ao senhor Zelaya, o presidente Micheletti ratificou no dia de hoje sua disponibilidade a reconhecer que é importante um compasso de espera durante este fim de semana para conseguir concretizar o governo de unidade e reconciliação", anunciou o governo interino por meio de um comunicado. A decisão é anunciada depois que Zelaya deu por "fracassado" o acordo, firmado há uma semana, entre o governo deposto e o interino. A seu ver, a decisão do Congresso em adiar a votação sobre a sua restituição impediu o cumprimento do cronograma acordado entre as partes. "(Isto) nos impediu de cumprir o calendário do acordo e chegar ontem a um governo de unidade e reconciliação", disse ele. Zelaya diz acreditar que o calendário do acordo exigia resolver primeiro a questão da presidência da República, embora o acordo Tegucigalpa San-José, assinado pelas duas partes, não estipulasse uma data para a votação do Congresso. Em entrevista à BBC nesta sexta-feira, Zelaya disse considerar "uma aberração ao espírito do acordo", a decisão unilateral de Micheletti de conformar um governo de coalizão que passaria a ser presidido por ele mesmo. Reações A ruptura do acordo também provocou reações da comunidade internacional. O porta-voz do departamento de Estado americano, Ian Kelly, afirmou nesta sexta-feira em Washington que o governo está "decepcionado" com os últimos acontecimentos em Honduras. "Estamos decepcionados que as duas partes não estejam seguindo o caminho que foi traçado", disse Kelly em uma referência aos termos do acordo Tegucigalpa-San José. "Pedimos às duas partes para que trabalhem para o melhor interesse do povo hondurenho e voltem à mesa de negociações imediatamente para alcançar um acordo para a formação de um governo de união nacional", afirmou o porta-voz. Mais cedo, fontes do departamento de Estado afirmaram que não consideram que a "atual conjuntura em Honduras possa ser classificada como um fracasso das negociações" e afirmaram que "seguem apoiando o processo de diálogo". OEA Ainda nesta sexta-feira, o secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, pediu para que os governo de fato e interino cumpram "sem subterfúgios" o acordo assinado pelas duas partes para acabar com a crise política do país. "As medidas aprovadas no acordo são claras e foram aprovadas voluntariamente por ambas as partes", disse ele por meio de um comunicado. "Espero que sem mais subterfúgios se cumpram para restabelecer a democracia, a legitimidade institucional e a convivência entre os hondurenhos." Insulza pediu para que o Congresso decida sobre a volta ou não de Zelaya antes de 27 de janeiro, mudando a tom das exigências da organização, que condicionava o reconhecimento das eleições de 29 de novembro à restituição do presidente deposto. "É também indispensável que o Congresso Nacional de Honduras emita um pronunciamento soberano sobre o ponto pendente do acordo de San Jose-Tegucigalpa sobre devolver o comando do Executivo ao seu estado anterior a 28 de junho até a conclusão do atual período governamental em 27 de janeiro de 2010", concluiu, referindo-se à data do último dia antes da deposição de Zelaya. Na quinta-feira, a Frente Nacional de Resistência Contra o Golpe, anunciou boicote às eleições. Brasil e os países do Grupo do Rio reiteraram nesta sexta-feira, em uma resolução, que não reconhecerão o resultado das eleições e exigiram a "restituição imediata" de Zelaya ao poder. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.