Mídia hondurenha retrata pleito como 'festa' ou 'massacre'

Polarização é refletida na imprensa, que descreve cenários bem diferentes para votação.

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Por Rodrigo Durão Coelho
Atualização:

A grande polarização que Honduras vive em meio sua crise política é refletida nos cenários bastante díspares que a mídia vem retratando às vésperas das eleições presidenciais de domingo. Jornais, propagandas e programas de TV do governo interino vêm se referindo frequentemente ao pleito como "a grande festa eleitoral". Estes veículos ressaltam números superlativos, como a quantidade de candidatos, incluindo independentes, e de jornalistas estrangeiros credenciados para cobrir o evento. "Nunca o mundo todo prestou tanta atenção às eleições hondurenhas", dizem jornais que apoiam o governo interino. Violência Já a imprensa oposicionista, que pede o boicote ao pleito, afirma que existem indícios sólidos de que grupos armados planejam o "massacre de mais de mil pessoas no dia das eleições", segundo reportagem publicada no jornal El Libertador. De acordo com o diário, a denúncia é feita pelo presidente do Comitê de Defesa dos Direitos Humanos de Honduras, Andrés Pavón, que afirma que o objetivo da violência é reconduzir os militares ao poder. Pavón diz ainda que a organização já se prepara para cuidar das vítimas. "É perigoso votar!", diz o título da reportagem. Ceticismo A disparidade nos relatos parece estar estimulando o ceticismo em muitos eleitores. "Não acredito em ninguém, nada que se lê ou vê na televisão é verdade, é tudo propaganda", disse à BBC Brasil o eletricista Danilo. "O governo fala que muitos jornalistas estrangeiros estão aqui, mas não diz que é, em boa parte, porque os golpistas fizeram algo errado que chamou a atenção mundial", diz ele, que afirma não preferir nem Zelaya nem Micheletti. "Não os suporto... na verdade nem acho eles muito diferentes. Eram do mesmo partido, não?" Apesar do ceticismo de Danilo e de outros, a reportagem da BBC Brasil também encontrou hondurenhos que se dizem temerosos de sair de casa no domingo. Talvez para tentar conter os boatos, o governo de fato emitiu na sexta-feira um comunicado dizendo que a segurança dos eleitores será garantida. Tanto oposição como situação parecem concordar que o índice de comparecimento eleitoral no domingo pode ser uma arma política interessante. Um grande número de votantes daria legitimidade às eleições, ao passo que um comparecimento menor do que os 55% registrados no último pleito agradaria os partidários do presidente deposto, Manuel Zelaya. O fato de Zelaya seguir refugiado na embaixada brasileira em Tegucigalpa divide a opinião pública internacional, com países, inclusive o Brasil, dizendo que por isso não reconhecerão o pleito, e outros, como os EUA, que afirmam que consideram o processo eleitoral legítimo, apesar da situação do líder eleito. Crise A crise política em Honduras teve início em 28 de junho, quando o presidente eleito do país, Manuel Zelaya, foi destituído do cargo pelas Forças Armadas, acusado de violar a Constituição do país, e em seu lugar assumiu um governo interino, liderado pelo antigo presidente do Congresso, Roberto Micheletti. A deposição foi condenada por diversos países, entre eles o Brasil e os Estados Unidos, além de organizações como a OEA e a União Europeia. Zelaya voltou clandestinamente a Honduras e se abrigou na embaixada do Brasil, onde está desde o mês de setembro. Na próxima quarta-feira, como parte de um acordo intermediado pelos Estados Unidos, o Congresso deve votar se Zelaya voltará a ocupar a Presidência até o final de seu mandato, em 27 de janeiro. Micheletti afastou-se do cargo provisoriamente, podendo voltar ao poder dependendo da decisão do Congresso no dia 2. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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